Por Gerson Freitas Jr.
Grandes operações com derivativos de câmbio, como as que levaram Wesley Batista à prisão, têm sido uma parte fundamental da estratégia da JBS há anos.
Promotores disseram que a JBS se beneficiou de uma compra de US$ 2,8 bilhões em contratos futuros de dólar realizada nas semanas anteriores a 17 de maio, quando as notícias sobre acordo de delação dos executivos da empresa vazaram na mídia, levando o real, no dia seguinte, à maior baixa desde 1999.
O presidente Michel Temer acusou os executivos da empresa de especular contra a moeda brasileira, e a Polícia Federal invadiu a sede do conglomerado de São Paulo, em operação ligada a denúncias de transações com informações privilegiadas.
Ainda que os movimentos da JBS no câmbio tenham sido descritos como altamente incomuns e sem precedentes pelos promotores, não foi a primeira vez em que a empresa fez apostas de grande porte contra o real em antecipação a flutuações expressivas nos últimos anos.
A abordagem agressiva nas operações com derivativos de câmbio ajudou a proteger o balanço da empresa contra desvalorizações cambiais que eventualmente inflaram o tamanho de sua dívida externa, atualmente em aproximadamente R$ 47 bilhões.
Quando Joesley Batista sentou-se para uma entrevista em maio de 2015, ele previu uma forte depreciação para a moeda; nos primeiros seis meses daquele ano, a JBS aumentou em 50% seu estoque de derivativos cambiais, chegando a US$ 12 bilhões, o maior hedge para qualquer empresa não financeira do país na época.
Em setembro do mesmo ano, o real entrou em colapso à medida que a economia mergulhava em recessão em meio a um declínio nos preços de commodities e o começo de uma crise política que levaria ao impeachment da então presidente Dilma Rousseff.
Wesley e Joesley Batista, que estão presos, têm negado repetidamente as irregularidades. Em seu depoimento em São Paulo após sua prisão, Wesley disse que nada do que JBS fez foi diferente do usual na sua estratégia de usar o mercado de derivativos para proteger seu balanço.
Os movimentos estão em linha com a política de gerenciamento de riscos e proteção financeira da empresa, bem como com a legislação, disse a JBS por e-mail, respondendo a pedido de comentário.
A JBS disse também que gerencia diariamente sua exposição a moedas e commodities com objetivo de reduzir riscos relacionados.
A empresa registrou um ganho financeiro de R$ 10,6 bilhões (US$ 3,4 bilhões) de sua mesa de câmbio depois que o real caiu 33% em 2015, superando o lucro combinado de suas operações de carne bovina, suína e aves. A empresa desmontou sua posição no segundo trimestre de 2016, com o real recuperando-se de uma mínima de 22 anos, levando a perdas financeiras; depois disso, nenhuma cobertura significativa foi feita pelo menos até maio.
Então, apenas no dia 17 de maio, o último dia de negociação antes da novidade sobre a negociação de delação premiada, a empresa comprou cerca de US$ 474 milhões no mercado futuro de câmbio, disse o delegado Rodrigo Campos Costa aos jornalistas em uma coletiva de imprensa na quarta-feira.
Os irmãos “conheciam o prejuízo potencial das confissões que fizeram”, disse Costa.
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