Os fundamentos por trás da queda do dólar

Por Josué Leonel e Patricia Lara.

O dólar acelera a queda diante do real e parte do mercado vê a possibilidade de a moeda americana cair abaixo de R$ 3,00 em breve. Essa apreciação cambial tem fundamentos internos, como as reformas e a queda da inflação, e externos, como a alta de produtos exportados pelo Brasil no exterior, sobretudo o minério de ferro. A maioria do mercado ainda mantém um pé atrás com riscos, como a alta dos juros e medidas do novo governo nos EUA e o acirramento da crise política no Brasil. O apetite do investidor pelos ativos brasileiros, contudo, segue surpreendendo positivamente.

A queda do dólar, que saiu de mais de R$ 4,00 um ano atrás para o atual patamar pouco acima de R$ 3,00, mostra aderência absoluta do câmbio com o risco Brasil medido pelo CDS de cinco anos. O CDS brasileiro, que atingiu 533 pontos após o Brasil perder o grau de investimento em 2015, se aproxima agora de 200 pontos, praticamente retornando ao patamar anterior ao agravamento da crise visto no governo de Dilma Rousseff.

A melhora da percepção do risco reflete a capacidade que o governo vem mostrando em aprovar as reformas no Congresso e a política monetária do Banco Central, que conseguiu levar a inflação de volta à meta, diz Nathan Blanche, sócio da Tendências Consultoria. A consolidação das reformas pode atrair fluxo de investimentos e manter o dólar em nível menor, abaixo de R$ 3,00, diz o consultor. Ganhos de produtividade e entradas de capital compensariam eventuais impactos do real forte sobre o comércio exterior.

Além do real rondando a marca de R$ 3,00, os últimos dias viram uma forte queda dos juros futuros, às vésperas de mais um provável corte da Selic, e o Ibovespa superando os 68.000 pontos. A boa performance dos ativos locais confirma que o Brasil saiu do ciclo de “destruição de valor”, migrando para uma situação de racionalidade econômica, diz Leonardo Monoli, sócio e diretor da Jive Asset.

Monoli cita ainda a intenção do governo de autorizar o estrangeiro a possuir até 100% nas companhias aéreas e comprar terras no país como fatores positivos para o câmbio. Ele pondera, contudo, que o real teve “apreciação relevante” nos últimos dias e pode sofrer alguma pressão no fim do mês, dado que o BC fará rolagem apenas parcial dos swaps cambiais.

Para Luciano Sobral, economista do Santander Brasil, o real e moedas dos países emergentes em geral estão “surfando no otimismo global”, que faz o minério de ferro surpreender para cima e o CDS brasileiro voltar para perto de antes da crise política. Sobral considera, porém, que este otimismo pode não durar, diante da elevação dos juros pelo Fed e a imprevisibilidade do governo Trump nos EUA. A repatriação de recursos externos, que alguns operadores consideram um fator adicional de queda para o dólar, não muda o cenário, diz o economista. O banco segue prevendo dólar a R$ 3,75 no final do ano.

Blanche, da Tendências, considera possível uma queda maior do dólar, mas reconhece que o mercado está antecipando um cenário que ainda não é totalmente claro, baseado em expectativas que precisam ser confirmadas. Ele lembra que o fluxo cambial continua negativo e que os investimentos estrangeiros diretos só devem crescer mais substancialmente quando o ajuste da economia for completado com a aprovação das reformas mais desafiadoras, como a da Previdência. “A economia ainda está frágil”, diz o consultor.

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