Oscilações de bonds gregos têm mais a ver com política do que com mercado

Por Anchalee Worrachate.

À distância, parecia que finalmente havia uma boa notícia para os mercados gregos, porque os retornos sobre os bonds do governo superaram os de outros governos europeus. De perto, a maioria dos investidores não vai nem tocá-los.

Os maiores gerentes de fundos sabem que o volume de trading ainda está muito baixo para que eles comprem ou vendam sem atingir os preços. As avaliações dos bancos, que mostram um retorno de 46 por cento no terceiro trimestre, refletem mais as percepções sobre os acordos políticos pela dívida da Grécia do que a capacidade do país de evitar o calote implementando as medidas econômicas incluídas no resgate.

“A Grécia é importante para nós por ser um sinal de perigo iminente no mercado de bonds europeus”, disse Mark Dowding, sócio e gerente de recursos da BlueBay Asset Management LLP em Londres, que administra US$ 62 bilhões. “Não gostamos do histórico da Grécia com as reformas nem planejamos comprar os bonds do país no momento”.

Na quinta-feira, o primeiro-ministro Alexis Tsipras anunciou que renunciará, visando uma eleição antecipada. Pressionado, ele provavelmente utilizará essa medida para tentar calar os dissidentes e voltar ao poder com uma coalizão mais administrável. Será a segunda eleição na Grécia neste ano.

Depois de meses de muito drama e de seu sistema financeiro ter chegado à beira da crise, o país mais endividado da zona do euro tinha acabado de conseguir chegar a um acordo com seus credores europeus para obter um terceiro resgate, avaliado em 86 bilhões de euros (US$ 97 bilhões).

Mercado agitado

O retorno sobre os bonds gregos neste trimestre até 20 de agosto chegou depois de uma perda de 26 por cento nos primeiros seis meses, segundo os Bloomberg World Bond Indexes. A alta levou o retorno acumulado no ano para 8 por cento, em comparação com 2,5 por cento para os bonds da Itália e 0,9 por cento para os da Alemanha.

A notícia de outra eleição iminente mostrou o quanto o mercado está sensível. Os bonds gregos continuaram caindo e os ganhos anteriores da dívida espanhola e italiana foram eliminados na quinta-feira. O yield sobre os títulos do governo grego com vencimento em dez anos aumentou 51 pontos-base, para 10,06 por cento, a maior taxa em uma semana, nesta sexta-feira às 13h10 em Londres.

Os poucos gerentes de fundos que assumiram o risco talvez tenham colhido um ganho. Michael Krautzberger, diretor de renda fixa em euros da BlackRock International Ltd., disse em julho que algumas das contas de retorno total da companhia compraram uma quantidade “minúscula” de bonds gregos. Desde então, a BlackRock vendeu a maioria deles, segundo uma fonte do setor que pediu anonimato porque a transação foi confidencial.

‘Grandes obstáculos’

“As coisas com certeza parecem melhores no curto prazo”, disse Cosimo Marasciulo, diretor de bonds de governos da Pioneer Investments, que administra US$ 242 bilhões, antes do anúncio de Tsipras. “Mas ainda restam alguns grandes obstáculos para superar”.

Um exemplo são as vendas de ativos estatais. Em 2011, sob o primeiro plano de resgate da Grécia, 50 bilhões de euros deveriam ter sido arrecadados até 2015 com a privatização de empresas e imóveis públicos. Apenas 7,7 bilhões de euros em vendas foram definidos até agora, segundo dados do Hellenic Republic Asset Development Fund.

Além disso, há a carga de dívida que, segundo o governo de Tsipras e autoridades do FMI, é insustentável. Com uma recessão econômica que está paralisando a receita tributária, a razão entre a dívida e o PIB poderia pular para 200 por cento, segundo uma projeção feita pelo FMI em julho. Em comparação, na maioria das economias avançadas essa razão está bem abaixo de 100 por cento.

“O país é insolvente”, disse John Anderson, gerente de recursos da Smith Williamson, uma empresa de investimentos com o equivalente a US$ 25 bilhões em ativos. “O investimento nos bonds gregos é uma jogada política, não uma financeira”.

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