Otimismo do mercado resiste a dados frustrantes da economia

Por Josué Leonel e Marisa Castellani.

O otimismo do mercado teve de resistir hoje a mais um indicador frustrante da economia. As vendas no varejo caíram 5,5% em agosto sobre mesmo mês do ano passado, na 17ª queda seguida. Assim como havia ocorrido com a produção industrial do mesmo mês, o desempenho do varejo foi pior do que o previsto. A esperança dos investidores é que a queda dos juros, a ser provavelmente iniciada amanhã pelo Banco Central, conforme as expectativas do mercado, combinada às reformas propostas pelo governo Temer, assegure a retomada do crescimento em 2017.

O crescimento pode recomeçar ainda neste trimestre, embora o ano ainda deva fechar com retração aguda de 3,1%, diz Sérgio Vale, economista-chefe da MB Associados. O economista vê em 2017 uma expansão de 2%, maior do que a mediana das estimativas do mercado. “Da mesma forma que se via o longo prazo do governo Dilma muito ruim, apesar de ainda ter números positivos até 2013, agora é o inverso disso, com números de curto prazo ainda ruins, mas um longo prazo bastante interessante à frente”.

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Vale observa que o Brasil conta com a chance de ter dois governos seguidos, o de Temer e o que vier a assumir em 2018, liderando uma agenda de reformas. A aprovação de um teto para os gastos agora, por exemplo, poderia facilitar uma reforma tributária que reduza os impostos mais à frente. “Estão sendo montadas as bases para uma normalidade de política econômica que será extremamente benéfica para o crescimento de longo prazo”.

De maneira geral, os economistas do mercado atribuem a demora da economia em deslanchar sobretudo a dois fatores que interferem diretamente no ímpeto da população em consumir. Um é o alto desemprego, de quase 12%, que leva o trabalhador a poupar por receio de perder o trabalho e ficar sem renda. O segundo fator é o que os economistas chamam de alta alavancagem. Diferentemente de outras crises, a recessão do governo Dilma pegou as empresas e o consumidor altamente endividados, sem condições de assumir novos compromissos em uma situação de juros altos e elevada incerteza política.

Embora o corte dos juros esperado para esta quarta-feira seja visto como um eventual sinal-verde para a retomada da economia, alguns analistas consideram que, diante do endividamento elevado, o consumo terá pouca capacidade de ser o motor do crescimento. “Os investimentos é que devem puxar o PIB para cima nos próximos anos”, diz Ignacio Crespo, economista da Guide Investimentos. Daí a importância crucial das reformas para assegurar a manutenção da confiança dos investidores.

Existe um descasamento entre a euforia da bolsa, que já subiu 46% este ano, e a economia real, que segue fraca, diz Hersz Ferman, economista da Elite Corretora. Essa demora da retomada, porém, não deve ser motivo para alarde. “Essa é a ordem esperada dos fatores: primeiro, melhoram muito as expectativas e depois é que vemos a economia se recuperando. Caso a retomada não se dê no ritmo e na amplitude projetadas, os ativos financeiros passam por uma correção. Mas só lá na frente.”

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