Por Maria Elena Vizcaino e Sydney Maki.
Investidores de mercados emergentes que apostam em um salto dos lucros corporativos em 2021 podem estar muito otimistas, devido aos desafios para a recuperação das economias diante da crise causada pela Covid-19.
A expectativa de analistas de aumento de até 30% do lucro por ação de empresas do índice de referência de mercados emergentes MSCI em 2021 é muito alta quando comparada às previsões de crescimento econômico, disse Pedro Martins Junior, estrategista-chefe de renda variável para América Latina do JPMorgan Chase. O banco projeta que o PIB global termine o próximo ano 3,9% abaixo do nível pré-pandemia.
Embora analistas normalmente esperem que os lucros cresçam mais rapidamente do que as economias, a diferença em 2021 é cerca de duas vezes maior do que o habitual, em parte devido à queda significativa em 2020, segundo o estrategista. Os países terão que ajustar as contas fiscais no próximo ano para compensar o aumento dos gastos para combater a pandemia, por isso é difícil acreditar que os lucros aumentem tanto, afirmou.
Segundo Martins, o pós-Covid-19 será marcado por maior alavancagem, de uma maneira que deve afetar a capacidade de investimento. Ele vê estragos nos balanços de governos, empresas e famílias.
A Índia é um país onde as previsões de lucro parecem “exageradas”, dado o crescente déficit fiscal do país, segundo Martins. Enquanto a economia do país asiático deve registrar retração de 6,5% em 2021, as projeções de lucro por ação da Índia mostram aumento de 38,2%, segundo o banco. O país também registra o terceiro maior número de infecções por coronavírus do mundo, o que complica ainda mais a recuperação econômica.
As previsões de lucro são mais plausíveis na Europa Central e Oriental, África e Oriente Médio, onde analistas esperam queda de 8,9% no próximo ano, principalmente devido à desvalorização dos preços do petróleo que atingiu empresas russas, disse Martins. Para a América Latina, as estimativas de lucro corporativo mais baixas para Chile e Peru reduzem a diferença, de modo que as previsões de ganhos estão mais alinhadas às expectativas de crescimento da região.
Martins destaca que as economias emergentes precisam ajustar as contas fiscais em 2021. Ele vê uma combinação de risco de impostos mais altos, com menos gastos especialmente em infraestrutura, o que deve levar a um menor crescimento do PIB.