Notícia exclusiva por Josué Leonel com a colaboração de Carla Simões.
Depois de Henrique Meirelles, eterno candidato nunca efetivado em postos da área econômica do governo Dilma Rousseff, agora é a vez de Antonio Palocci ser alvo de especulações de que seria o substituto da vez para Joaquim Levy. Assim como Meirelles, contudo, as chances de Palocci ser a solução são reduzidas.
Se a crise política aprofunda a crise econômica e dificulta sua solução, nada melhor do que alguém com experiência política para desatar os nós do ajuste fiscal. Afinal, uma das principais críticas que pesam sobre Levy é de que, apesar da reconhecida capacidade técnica, faltaria ao ministro o traquejo político para aprovar no Congresso as medidas do ajuste fiscal.
Talvez por isso, um simples encontro de Palocci com Dilma na última sexta-feira, relatado pelo jornal Valor e não confirmado oficialmente pelo governo, teria sido suficiente para levantar especulações. Assessores não identificados pelo jornal teriam dito que Palocci poderia voltar à Fazenda no caso de Levy sair.
Palocci, assim, seria o nome ideal. Afinal, antes de ser o ministro que ajudou Lula a conquistar a confiança dos investidores, levando o Ibovespa a disparar 141% em dólar em 2003, Palocci fora deputado e prefeito. Como prefeito, privatizou a telecom de Ribeirão Preto quando a visão do PT sobre privatização era muito mais negativa do que hoje.
Como ministro, Palocci elevou o superávit primário e passou no Congresso uma reforma parcial da Previdência do setor público. Enfim, o ex-ministro é um petista histórico, mas que pensa diferente da maioria dos petistas em termos de economia e sabe como driblar resistências do partido em questões delicadas.
Palocci também soube montar sua equipe, um dos talentos mais cruciais para um líder. Um dos seus secretários mais destacados era Marcos Lisboa, hoje professor do Insper. O outro, Joaquim Levy, o atual ministro da Fazenda, que já na época se chocava com o PT pela defesa de cortes de gastos públicos. “Palocci montou uma equipe nota 10”, diz David Fleischer, professor de política da Universidade de Brasília.
Americano de nascimento naturalizado brasileiro, Fleischer vê duas razões para não apostar em um ”revival” de Palocci na Fazenda. Primeiro, ele dificilmente iria para o ministério por estar entre os nomes investigados na Lava-Jato. Seria um risco muito grande para quem já teve de deixar o governo duas vezes, primeiro com as denúncias do caseiro Francenildo, no governo Lula, e depois pelas acusações sobre enriquecimento pessoal, no primeiro mandato de Dilma.
A segunda questão, diz o professor na UNB, é que o cenário que seria encontrado por Palocci hoje seria muito diferente daquele de 2003, quando Lula acabara de emergir das urnas fortalecido. Com a crise econômica se aprofundando e a tensão política permanente dificultando a aprovação de medidas no Congresso, seria difícil hoje reunir uma equipe com o mesmo padrão. “Ninguém vai entrar em um barco que está afundando”, diz Fleischer.
Mesmo com Levy enfraquecido no governo, é possível que ele continue na Fazenda por falta de alternativas. Meirelles também caberia em um figurino desejado pelo mercado: o de um nome muito forte, com luz própria, que certamente só aceitaria ir para o governo com autonomia absoluta. Ou seja, Dilma teria de dar a Meirelles o que não deu a Levy, que precisa dividir o comando da economia com a pasta do Planejamento, de Nelson Barbosa. O problema é que ninguém parece acreditar nessa possibilidade.
Para Fleischer, a melhor alternativa é manter Levy na Fazenda. Ele ainda seria o ”fiador” de Dilma junto aos mercados internacionais. Se ele sair, diz o professor, o Brasil vai ser rebaixado pelas agências de rating no outro dia.