Para a OPEP, a dolorosa depressão do petróleo deste ano trará ganhos em 2016

Por Grant Smith.

Embora a luta da OPEP para tomar participação no mercado de produtores rivais de petróleo possa parecer um fracasso caro em um momento em que os preços definham para abaixo de US$ 50 por barril, um cenário totalmente diferente poderia surgir no ano que vem.

Espera-se que em 2016 a oferta de fora da OPEP se contraia pela primeira vez desde 2008, declinando em 200.000 barris por dia, segundo a Agência Internacional de Energia. Como o consumo crescerá 1,4 milhão de barris diários, a OPEP e sua líder de fato, a Arábia Saudita, poderiam aproveitar a chance para ampliar seu mercado, ao passo que concorrentes prejudicados pela depressão dos preços desaparecem.

“Declarar a política deles um fracasso é se adiantar muito”, disse Greg Sharenow, que administra US$ 15 bilhões como vice-presidente executivo da Pacific Investment Management Co. “Não acredito que se possa considerar o plano e o modelo de negócios dos sauditas e da OPEP como uma visão de seis ou doze meses. No longo prazo, observaremos uma menor oferta vinda de fora da OPEP, uma demanda mais alta e uma maior participação no mercado para eles”.

Em novembro de 2014, a Organização de Países Exportadores de Petróleo se desviou da sua política tradicional de ajustar a oferta para administrar os preços, anunciando que manteria a produção para defender sua posição no mercado. Essa decisão vem sendo posta à prova pelo colapso no petróleo bruto, que desde então caiu mais de 40 por cento em meio a uma superabundância mundial de oferta.

Benefício

A participação da OPEP no mercado mundial de petróleo minguou para sua proporção mais baixa em uma década no ano passado, pois a produção em rápido crescimento dos poços de xisto nos EUA eclipsou os ganhos na demanda por combustível. Contudo, o declínio acentuado no Brent, que era negociado a cerca de US$ 49 nesta sexta-feira depois de se recuperar para mais de US$ 60 em maio, poderia resultar benéfico para o grupo de doze países-membros, sendo que concorrentes com custos mais altos têm dificuldades.

Muitas empresas de xisto dos EUA estão prostradas pelos empréstimos que alimentaram o boom do setor. Os pagamentos de juros sobre US$ 235 bilhões em dívidas dos perfuradores no Bloomberg Intelligence North America Independent Explorers Producers Index poderiam afetar algumas empresas mesmo depois que outras acharam formas de reduzir custos e impulsionar a eficiência. Quanto mais tempo o preço do petróleo bruto esfriar, maior será a pressão sobre os produtores para cortar gastos.

Tais ajustes na concorrência poderiam ser pouco consolo para os países-membros mais vulneráveis da OPEP. Os mais fracos – os “cinco frágeis” – Argélia, Iraque, Líbia, Nigéria e a Venezuela – têm tido que diminuir gastos sociais depois da queda nos preços e enfrentam um risco cada vez maior de agitação política, segundo a RBC Capital Markets LLC. O Equador, o país-membro com as menores reservas de petróleo bruto, está produzindo com um prejuízo de cerca de US$ 9 por barril, disse o presidente Rafael Correa em 25 de agosto.

Sem imunidade

Nem sequer o maior país-membro da OPEP é imune ao sofrimento. O governo saudita está tentando cortar bilhões de dólares do orçamento para o ano que vem depois de incorrer no maior déficit desde 1987 neste ano, segundo duas fontes do setor. Enquanto isso, o Irã, antigamente o segundo maior produtor da OPEP, engrossará ainda mais a oferta mundial de petróleo aumentando a produção quando as sanções contra o país forem revogadas.

Contudo, apesar de todas as falhas do plano da OPEP, a abordagem alternativa de reduzir a produção poderia ter saído pior. Se tivesse ajustado, a Arábia Saudita teria cedido participação no mercado e receita perdida no longo prazo, ao passo que o apoio resultante dos preços teria incentivado a produção de xisto nos EUA, inflando o excedente, segundo o Société Générale SA.

“Este sempre tem sido um jogo prolongado, medido em anos, não meses”, disse por e-mail Mike Wittner, diretor de pesquisa sobre o mercado de petróleo do Société Générale em Nova York. “Eles apenas precisam ser pacientes”.

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