Para economistas, desafio do BC no Brasil é maior que na Rússia

Por Olga Tanas.

A corrida para baixar juros na Rússia e no Brasil pode ser decidida por fatores fora do controle de seus bancos centrais.

Mesmo após meses de cortes nos juros, as duas economias continuam com taxas de captação que estão entre as mais altas do mundo após ajuste para inflação. Os dois países ainda tentam superar dois anos de recessão e enfrentam crises, mas a turbulência política no Brasil dá às autoridades monetárias locais uma tarefa mais árdua, de acordo com Morgan Stanley, Capital Economics e Renaissance Capital.

Para o Morgan Stanley, “a estabilidade política doméstica e a situação sustentável da dívida” na Rússia simplificam o trabalho do banco central, que, desde setembro, só realizou três cortes nos juros somando 1 ponto percentual. No mesmo período, o Brasil baixou a taxa Selic em 4pontos percentuais.

Atualmente, a Selic está em 10,25 por cento e deve terminar o ano em 8,5 por cento, enquanto a taxa básica de juros na Rússia deve cair de 9 por cento atualmente para 8,25 por cento, segundo as projeções medianas apuradas pela Bloomberg.

“Estabilidade política doméstica significa menos pressão por populismo sobre o governo e, portanto, política fiscal mais prudente”, afirmou a economista Alina Slyusarchuk, do Morgan Stanley, em Londres.

Tensões com os EUA e a ameaça de ampliação das sanções pesaram sobre a decisão do Banco da Rússia neste mês por uma redução menor nos juros do que em abril. No Brasil, o desafio é maior com o presidente Michel Temer acusado de corrupção e correndo o risco de perder o mandato. Temer nega as acusações.

“No Brasil, a política é mais incerta, o que significa que o Banco Central talvez tenha maior propensão a reverter a trajetória se a moeda sofrer outra queda acentuada”, disse Neil Shearing, economista-chefe para mercados emergentes da Capital Economics. “Por esta razão, dá para dizer que eles têm o trabalho mais difícil nos próximos seis meses.”

Embora a longa recessão na Rússia tenha intensificado a insatisfação da população, a aprovação do presidente Vladimir Putin continua alta a meses das eleições de março de 2018. Uma pesquisa de opinião realizada no mês passado pelo Centro Levada, de Moscou, mostrou que 63 por cento dos russos votariam nele agora, ou 55 pontos percentuais a mais do que as intenções de voto em seu oponente mais popular. Putin ainda não confirmou se vai disputar, mas a expectativa é que ele tente um último mandato de seis anos.

A flexibilização monetária no Brasil e na Rússia coloca os dois países em descompasso com o ciclo de aperto implementado nos EUA pelo Federal Reserve, que aumenta o risco de fuga de capitais de países em desenvolvimento. Colômbia e Ucrânia estão entre os poucos países emergentes que ainda estão baixando os juros.

“Em grande parte, a política monetária nos mercados emergentes se descolou do Fed, pelo menos por ora”, disse Win Thin, estrategista-chefe de câmbio para mercados emergentes do Brown Brothers Harriman. “Em sua maioria, os países sem câmbio fixo estão se dando conta de que não é necessário fazer igual ao Fed e estão cortando juros ou mantendo as taxas estáveis.”

Rússia e Brasil estão baixando o custo do dinheiro após crises cambiais acompanhadas de disparada da inflação. À medida que as autoridades flexibilizam as condições monetárias, os investidores acreditam que o rublo e o real continuarão entre as moedas mais instáveis dos mercados emergentes. Uma métrica de volatilidade implícita em três meses é negociada acima de 13 por cento para os dois países, segundo dados compilados pela Bloomberg.

“Provavelmente a situação está mais fácil para a Rússia porque os mercados podem ter mais confiança de que a política fiscal permanecerá responsável”, disse Charles Robertson, economista-chefe global da Renaissance Capital, em Londres. “Isso não é certeza no Brasil, devido à possível troca de presidente no curto a médio prazo.”

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