Para os bancos centrais, o jogo é o xadrez, e não damas

Por Simon Kennedy.

Para os observadores dos bancos centrais, o jogo já não é o de damas, e sim o de xadrez.

Entre os economistas que acompanham cada movimento dos comitês de política monetária do mundo, a questão deixou de ser se as taxas básicas de juros estão subindo ou descendo.

As variáveis do mundo pós-crise agora incluem as taxas de depósito, os balanços e o regulamento do setor financeiro. Um banco central moderno pode elevar o custo do crédito sem jamais tocar sua taxa básica.

“O mercado ainda está fixado na política monetária como um bom resultado binário, as taxas sobem ou descem”, disse Paul Donovan, economista global do UBS Group AG. “Mas o resultado não é binário. A política monetária agora é mais multifacetada”.

O risco é que o próximo ciclo de aperto monetário, que deverá ser iniciado pelo Federal Reserve no mês que vem, possa criar mercados financeiros mais voláteis dependendo simplesmente da forma como ele for feito.

O UBS já está tentando ajudar seus clientes publicando projeções para os balanços dos bancos centrais juntamente com suas previsões para as taxas. Por isso, assim como seus economistas veem a taxa de referência do Fed próxima a 2,5 por cento no final de 2017, eles também estimam que seu balanço — carregado de bonds comprados para fornecer estímulos econômicos nos últimos sete anos — cairá para quase 20 por cento do produto interno bruto, contra cerca de 25 por cento.

De volta aos anos 1980

Isso indica uma certa regressão aos anos 1980, quando bancos centrais como o Fed e o Bundesbank estavam tão focados na política quantitativa e em sua influência sobre a oferta de dinheiro quanto nas taxas. A base monetária já é a meta oficial das operações de política monetária do Banco do Japão.

“Já não basta publicar projeções sobre a taxa de política monetária como um indicador da postura em relação à política geral do banco central”, disse Donovan. “A política quantitativa e a política regulatória também incidem”.

Independentemente da ferramenta usada, o objetivo de reduzir a ampla oferta de dinheiro é o mesmo. Um aumento à taxa determina o preço do dinheiro, mudar a regulação altera sua velocidade e a postura quantitativa molda sua oferta, segundo Donovan.

O resultado, de todos modos, varia dependendo da alavanca puxada. Elevar as taxas, por exemplo, pode prejudicar quem tem um financiamento imobiliário, mas em contrapartida anima aqueles que contam com algum tipo de poupança. Uma inversão na flexibilização quantitativa pode afetar aqueles que mantêm bonds devido ao aumento da oferta desses títulos. As regulações destinadas a desinflar bolhas de ativos prejudicarão aqueles que se encontram nos mercados visados, como o imobiliário.

Um caso prático é o Banco da Inglaterra, no qual os investidores agora acreditam que o presidente Mark Carney esperará até 2017 para aumentar sua taxa básica de 0,5 por cento.

Ajustes por omissão

Donovan sinaliza, em contrapartida, um certo ajuste por omissão, pois o Banco da Inglaterra permitiu que seu balanço encolhesse enquanto porcentagem da economia ao simplesmente deixar de comprar mais ativos. O UBS considera que a fatia será de 19 por cento do PIB em dois anos, contra cerca de 21 por cento atualmente.

Além disso, o Banco da Inglaterra conta com o Comitê de Política Financeira, que tem a tarefa de monitorar e conter o risco sistêmico na economia britânica. Crescem as especulações de que a instituição poderá decidir nesta semana aumentar as exigências de capital aplicadas aos bancos para evitar o excesso de empréstimos, algo que Carney reconheceu que “seria similar a algum tipo de ajuste monetário”.

“O gênio saiu da lâmpada”, disse Donovan. “Os bancos centrais agora dependem das políticas monetária, quantitativa e regulatória”.

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