Para Pimco e Goldman, China ameaça títulos emergentes

Por Denise Wee e Lilian Karunungan.

Algumas das maiores instituições de investimento do mundo alertam que o mercado mais agitado para dívidas de países emergentes desde a crise financeira global pode esfriar em 2018.

Bancos centrais pretendem elevar as taxas de juros, encarecendo a rolagem de volumes gigantescos de empréstimos corporativos. Questões geopolíticas estão esquentando. E além disso, há o processo de desalavancagem da China. Se isso frear o crescimento econômico, os títulos de outros países em desenvolvimento podem tropeçar, segundo instituições como a Pacific Investment Management Co. (Pimco) e a Goldman Sachs Asset Management.

O argumento central é que ainda há valor nesses ativos, mas é preciso prestar mais atenção nos riscos.

A narrativa de crescimento dos países em desenvolvimento ainda se sustenta, porém qualquer revés inesperado na China pode piorar o quadro, de acordo com Owi Ruivivar, diretora-gerente para dívidas de mercados emergentes da Goldman Sachs Asset Management. “É difícil imaginar a China passando por uma situação difícil enquanto o crescimento global e nos mercados emergentes vai bem”, ela disse.

Por enquanto, o presidente Xi Jinping tem limitado o excesso de captações no sistema financeiro sem abalar o crescimento econômico. Dados divulgados nesta quinta-feira mostraram que a economia chinesa registrou o primeiro ano completo de aceleração desde 2010.

Ainda assim, existem pressões. A onda de desvalorização dos títulos no mercado local elevou os custos de captação e diversos produtos de gestão de recursos deixaram de honrar pagamentos nos últimos dias, em meio a medidas do governo para combater o sistema bancário paralelo conhecido como shadow banking.

“As autoridades em Pequim aparentemente estão intensificando os esforços de desalavancagem na economia”, afirmou Michael Gomez, responsável por gestão de carteiras de mercados emergentes na Pimco.

As muitas ameaças chegam em um momento crítico para os mercados financeiros no mundo todo. Bancos centrais de importância global mantiveram os juros perto de zero durante anos, empurrando gestores de fundos para ativos mais arriscados, comprimindo os prêmios de rendimento sobre os títulos denominados em dólar para os menores níveis desde 2007.

Paralelamente, a previsão de retirada dos estímulos monetários fez com que os investidores reduzissem suas expectativas. O retorno dos títulos de dívida corporativa caiu de 11 por cento em 2016 para 8 por cento em 2017, de acordo com um índice Bloomberg Barclays.

A maior gestora de recursos do mundo, a BlackRock, estima que o retorno dos títulos de mercados emergentes denominados em dólar vai diminuir para 4 a 6 por cento neste ano, mas não vê motivo para pessimismo. Esses instrumentos costumam penar quando o dólar se valoriza ou quando ocorre uma virada no ciclo de crédito e nada disso está acontecendo, de acordo com Neeraj Seth, responsável por créditos da Ásia.

Existem outras ameaças nos mercados emergentes, incluindo o pagamento de dívidas. Vencem até o fim deste ano mais de US$1,5 trilhão em títulos e empréstimos sindicalizados, segundo cálculos do Instituto de Finanças Internacionais.

O Banco Central Europeu, o Federal Reserve, dos EUA, e outros estão se preparando para o primeiro aperto monetário simultâneo em mais de uma década, o que pode prejudicar a capacidade de serviço da dívida pelos muito onerados.

As medidas desses bancos centrais e os esforços intensificados de desalavancagem na China impõem riscos aos títulos de nações em desenvolvimento, de acordo com Karan Talwar, especialista em investimentos em dívidas de mercados emergentes da BNP Paribas Asset Management. Um aumento inesperado da inflação global é outro risco citado por Benjamin Robins, especialista em carteiras de dívidas de mercados emergentes da T. Rowe Price Group.

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