Paul Misle do Scotiabank: As crises são uma ótima fonte de aprendizagem

“Do ponto de vista da inclusão, creio que também estamos fazendo grandes avanços; claro, ainda há muito por fazer, mas estamos em um bom caminho, e isto me alegra.”

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Paul Misle

Head of Global Capital Markets | Scotiabank, Chile

Paul Misle, Head of Global Capital Markets do Scotiabank Chile, se formou em 1993 e, em seguida, começou a trabalhar no mercado financeiro — no qual já passou por diversas crises, a começar pela desvalorização geral do câmbio no México, no início de 1995, que ficou conhecida no mundo todo como “efeito tequila”.

“As crises financeiras são uma fonte de aprendizagem para quem trabalha no mercado de capitais”, reflete.

Misle acredita que esses momentos críticos, cada vez mais frequentes, marcaram seu processo de aprendizagem: “As crises me fizeram ver as coisas por um prisma diferente”, ressalta.

Por exemplo, antes da pandemia, houve diversos movimentos sociais no Chile que afetaram os mercados financeiros e impactaram temas como a percepção de risco. “Também tocaram em temas como nossas políticas fiscal e monetária”, observa.

Os aprendizados oriundos desses momentos são vivenciados em âmbitos diferentes; por exemplo, as restrições impostas pela COVID-19 mostraram a Paul que é possível trabalhar de uma mesa de câmbio em casa. “O conceito das mesas de câmbio é que todos estão no mesmo lugar, um espaço aberto onde a comunicação é fluida e oportuna, pois sempre foi necessário ou desejável poder operar desta maneira e neste ritmo, mas isto mudou com a pandemia”, conta.

“É algo que jamais imaginei que veria e que funcionaria tão bem; sem contar que foi uma mudança implementada muito rapidamente”, resume.

Trabalhar com novas regras

Paul relembra outra adversidade mundial importante que deixou lições e trouxe alterações cruciais: a crise financeira de 2008, que resultou na criação de novas regulamentações no mundo todo.

“Essa conjuntura econômica global crise teve muito a ver com a ganância, com o que estava por trás daquilo que estava sendo oferecido às pessoas e que não era o mais adequado; o objetivo era ganhar mais e mais e gerar lucros; porém, no longo prazo, o preço deste curso de ação foi alto”, explica.

“O que seguiu foi um processo longo e complexo, que tem impactos não apenas no aspecto operacional, mas também no comportamento das pessoas que trabalham no mercado financeiro ou nas mesas de câmbio”, descreve.

Por tudo isso, um dos maiores desafios para as novas gerações que chegam ao mercado financeiro é se adaptar rapidamente a todas as mudanças regulatórias em curso, tanto no nível global quanto local, e que modificam a forma como se faz negócios atualmente, destaca.

“De qualquer forma, as novas gerações já vêm com um ‘chip’ — uma ideia formada — sobre o que é bom e o que é ruim; além disto, têm vivenciado as crises mais de perto, o que se reflete também nas decisões que tomamos enquanto banco e instituição”, assegura.

“Para as novas gerações, o desafio é determinar como continuar realizando negócios rentáveis dentro de uma estrutura regulatória que obriga a adotar uma série de proteções e que até torna a operação mais cara”, assinala.

Mudança constante

As mudanças e os aprendizados a partir de experiências não são temas desconhecidos para Paul, que nasceu no Equador e cursou a universidade nos EUA — depois de ter trabalhado no setor hoteleiro para juntar o dinheiro necessário.

Depois de se formar em Finanças em 1993, começou a trabalhar nos escritórios do Lehman Brothers em Nova York e, posteriormente, foi transferido para Miami — onde se concentrava a gestão de todo o mercado latino-americano.

Em 1995, foi para o Chile, onde se radicou e ainda vive com sua família. Paul diz estar muito feliz em viver no país, o que se nota em suas palavras e sotaque, que revelam há quanto tempo vive ali.

“No Chile, minha carreira sempre esteve centrada no setor bancário, e sempre nas mesas de câmbio, mas em funções diferentes: gestão de balanço, risco de mercado — que era uma unidade das mesas de câmbio nos bancos, mas que depois passou a ser independente e no sell-side, dentro das mesas de câmbio, até passar a ser responsável pelo negócio como um todo”, relata.

Entre as pessoas que admira, estão desde sua prima, que o convenceu a estudar Finanças e o ajudou a começar a trabalhar no Lehman Brothers, até o ex-presidente do Federal Reserve dos EUA, Alan Greenspan.

“Muita gente não gosta do Alan Greenspan, e até o culpa por muitos dos problemas que nos afligem hoje em dia, mas creio que suas contribuições positivas são muito maiores”, opina.

O avanço da inclusão

Em mais de 25 anos de carreira, além das mudanças causadas pelas crises, Paul vivenciou uma muito significativa: a inclusão no mercado financeiro.

“No Chile, este assunto sofreu uma verdadeira revolução. Quando comecei a trabalhar, em 1995, havia uma mulher na mesa de câmbio, se tanto; hoje, podemos observar como as mulheres passaram a integrar as mesas de câmbio, que antes era um universo dominado pelos homens. Ainda não alcançamos os níveis desejados, mas as portas estão sempre abertas”, opina.

“E do ponto de vista da inclusão, creio que também estamos fazendo grandes avanços; claro, ainda há muito por fazer, mas acredito que estamos caminho certo, e isto me alegra.”

Vida com equilíbrio

Em seu tempo livre, Paul se dedica aos filhos e a documentários e programas sobre história na TV. “Hoje, podemos aprender de uma maneira muito mais divertida; as crianças e os jovens têm acesso a informação e educação de uma forma completamente diferente da que tínhamos”, observa.

Manter-se informado é muito importante para o seu trabalho: “O terminal Bloomberg é uma ferramenta muito potente que facilita a assimilação de uma grande quantidade de informações em pouquíssimo tempo”, explica.

“Também acompanho as redes sociais, em particular o Twitter, porque acredito que essa plataforma assumiu um papel muito importante nos processos de comunicação e decisão. Nem sempre estou 100% de acordo com o que leio ali, mas é uma das fontes de informação mais atualizadas. Primeiro, sai no Twitter; depois, nas outras”, diz.

Paul se autodenomina um “piloto frustrado”, porque sempre gostou muito de aviação. “Lamentavelmente, no meu tempo, a forma mais provável de fazer carreira na aviação era na Aeronáutica, mas eu jamais consegui me acostumar com a estrutura militar”, revela.

“A próxima opção seria me tornar advogado. Ainda que tenha estudado nos EUA, eu sempre quis regressar à América Latina. Ter um diploma de direito dos EUA para, em seguida, trabalhar na América Latina estava fora de questão. Então, fui levado a reconsiderar minhas opções de carreira e, por isso, estudei Finanças”.

Sua recomendação para as novas gerações é ter um equilíbrio de vida. “Em qualquer carreira, é comum nos preocuparmos demais com o trabalho e deixar outras coisas de lado. Eu sou muito grato por tudo que alcancei na minha carreira profissional, mas creio que deixei de lado alguns aspectos da minha vida pessoal. De forma geral, é muito importante ter equilíbrio em todas as coisas, e talvez tenha me faltado um pouco”, admite.

Isenção de opinião: Este texto é de responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a opinião da Bloomberg.


A Bloomberg convidou os “<GO> GETTERS” do mercado financeiro na América Latina a compartilhar os insights mais significativos de suas carreiras, descrevendo os sucessos alcançados e os desafios que enfrentaram no percurso, tanto como testemunhas do desenvolvimento deste ambiente acelerado quanto como contribuintes ativos de sua evolução, criando novas ferramentas, compartilhando melhores práticas e inspirando mudanças.

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