Paulo Machado do C6 Bank: A energia para chegar ao topo – e começar de novo

“Às vezes você fica pensando só no desafio final e sofre muito no caminho, mas esse trajeto de construção deve ser mais prazeroso. A maior parte da vida é o caminho. Você tem que se divertir nas construções, comemorar cada conquista.”

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Paulo Machado

Partner & Executive Director | C6 Bank, Brasil

Fazia horas que uma dúzia de sócios do banco BTG debatia um problema. Estavam em 2009, em uma videoconferência, distribuídos entre dois prédios no Rio de Janeiro e um em São Paulo, e precisavam chegar a uma decisão crucial para o banco, recém-adquirido do UBS. Paulo Machado, o único dos participantes que não era sócio, teve uma ideia que parecia romper o impasse. Contou ao chefe, que o incentivou a falar para todos. “Eu tinha desatado o nó”, lembra Paulo. “Então alguém disse que isso era ter cabeça de sócio. Foi aí que eu levantei a mão de novo e falei que também gostaria de ser sócio.”

Paulo afirma que este foi o momento mágico em que virou uma chave em sua carreira. “Eu era da geração que queria um emprego, naquele momento tornei-me empreendedor, virei sócio – mesmo que ainda não tivesse a posição. Mudei de patamar.”

A promoção foi antecipada, mas ele assegura que ela teria vindo de qualquer forma. “Eu sempre tive essa convicção de que as coisas acontecem no momento certo. É importante fazer o seu papel: se preparar, estudar, cultivar relacionamentos interpessoais, se dedicar – e deixar que as coisas aconteçam.” Seu início na carreira bancária foi assim. Aos 23 anos, formado em economia, com pós-graduação em mercados de capitais, trabalhava em uma consultoria e foi chamado para um processo de seleção no Banco Pactual, mas não pôde participar, por causa de uma viagem de família. Quase quatro anos depois, surgiu um novo convite para um processo de seleção, no mesmo banco Pactual (hoje BTG Pactual). Àquela altura, o trabalho na consultoria já o havia feito perder a timidez e tinha lhe dado conhecimentos de como funcionam as empresas em diversos segmentos da economia. Era o seu “momento certo”.

Um sabático cheio de trabalho

Em duas décadas de BTG, Paulo teve uma gama enorme de experiências. E uma profusão de chefes, porque o ambiente era dinâmico e as equipes mudavam com muita frequência. No final de 2016, considerou que havia cumprido seu ciclo no mercado financeiro. Lembrou-se do início da carreira, em consultoria de empresas, e decidiu tornar-se conselheiro. Era para ser um período mais tranquilo. “Mas as pessoas, sabendo que eu tinha mais tempo, começaram a me chamar para alguns projetos”, conta. Entrou em conselhos, tornou-se membro do comitê de governança da Associação Comercial do Rio de Janeiro, passou a dar aulas na Bolsa de Valores e na Fundação Getúlio Vargas. “Eu era tão workaholic e fiquei com tempo demais; em vez de ficar mais tranquilo com a família, acabei alocando esse tempo.”

Em breve, ficaria ainda mais ocupado. Seu ano sabático, já repleto de atividades, terminou em menos de seis meses, quando aceitou o convite de um ex-chefe, Marcelo Kalim, para fundar o C6 Bank. “Quando ele me falou desse projeto, eu pensei: isso, sim, um banco de varejo é algo muito diferente de tudo o que a gente já fez, vamos começar a estudar outras coisas”, diz. Em pouco mais de dois anos, saindo do zero, o banco arregimentou 3,5 milhões de clientes, sem nenhuma agência, funcionando basicamente pelo aplicativo.

Apesar do desafio, Paulo não abandonou os compromissos que já havia assumido. E ainda passou a dar expediente em São Paulo, de segunda a quinta-feira, voltando ao Rio para trabalhar às sextas-feiras. Abraçar essa rotina teve muito que haver com a admiração por Kalim. “A gente está falando de uma pessoa que ultrapassou qualquer limite de sucesso profissional e financeiro. A essa altura, a maioria das pessoas talvez fosse morar na praia – qualquer praia do mundo. Ele, não. Ele é empreendedor. Saiu completamente da sua zona de conforto para montar um banco de varejo.”

Se Kalim estava colocando o seu patrimônio, sua experiência, seu esforço no projeto, como ele poderia não seguir o exemplo?, conta Paulo. Tratava-se de uma mudança de área, ingressando num mercado já consolidado no Brasil; e além disso uma mudança de comportamento. Em vez de uma sede na avenida Faria Lima, epicentro do mercado financeiro de São Paulo, e do uniforme usual do mercado financeiro (calça social e camisa azul ou branca), eles trabalham nos Jardins, um bairro mais arejado, de calça jeans e sapatênis, camisa polo ou de malha, lidando com o pessoal de tecnologia. “Se a gente não se despisse dos nossos conceitos pré-formatados, não conseguiriamos montar o que propusemos como novo”, diz.

O equilíbrio entre eficiência e alegria

Lidar com o pessoal das novas gerações é também um aprendizado. “Eles não estão aqui por dinheiro”, avalia. “O interesse é por projetos. E o nosso desafio é manter essa motivação deles.” O conselho que ele costuma dar para esse pessoal é de aproveitar mais o caminho. “Às vezes você fica pensando só no desafio final e sofre muito no caminho, mas esse trajeto de construção deve ser mais prazeroso. É como um alpinista: quando ele alcança o topo da montanha, o que faz depois? Só pode descer. A maior parte da vida é o caminho. Você tem que se divertir nas construções, comemorar cada conquista.”

É exatamente o que ele gostaria de ter ouvido quando era mais jovem: acredite em você sem medo. “Eu já sofri muito no caminho, com dúvidas. Não precisa sofrer, precisa se dedicar. Com muito estudo, muita inovação, muita dedicação. É a fórmula padrão. Não estou falando só do estudo formal, também é preciso ser autodidata, aprender com bons profissionais. Aproximar-se do conhecimento lhe aproxima do sucesso. Mas não adianta ter todos os outros atributos se você não tiver a força mental de acreditar no seu propósito de vida”, afirma.

Da mesma forma, segundo Paulo é preciso ter objetivos ousados, ambicionar sempre fazer melhor – mas num ambiente agradável, colaborativo. “As pessoas têm de ser muito comprometidas com o objetivo, mas com leveza. Não precisa ser sisudo para ser eficiente. Também não adianta você ser brincalhão e não construir nada. É sempre uma busca do equilíbrio.”

Para formar os melhores times, capazes de manter um clima agradável e eficiente, Paulo acredita que, até mais do que a competência, é preciso avaliar o potencial de cada um. “Às vezes a pessoa ainda não está formada, mas tem o potencial”, diz. Esse olhar, acredita ele, acaba desembocando em diversidade. “Para mim são todos iguais, não há diferença entre homens, mulheres, negros, brancos, orientação sexual, qualquer tipo de profissão. Sempre montei minhas equipes com características e qualidades diferentes.

Atenção constante e decisões rápidas

Em quase três décadas de carreira, Paulo presenciou diversas inflexões no mercado brasileiro. Ele cita a primeira eleição de Luiz Inácio Lula da Silva, quando a maioria das empresas temeu uma ruptura no mercado; ou a maxidesvalorização do dólar em 1998, que levou à quebra de várias empresas; ou os recentes abalos no mundo dos negócios com os desdobramentos da Operação Lava Jato. Para ele, porém, a mais importante de todas é a atual: a revolução da tecnologia. “Hoje a tecnologia pode te levar produtos melhores, mais rápidos, e o mundo todo está indo para esse lado. E o mercado financeiro brasileiro, especialmente, é muito bom”, considera.

A vivência profissional lhe deixou a profunda convicção da importância do mercado financeiro. “Os bancos sofrem reflexos muito fortes do que acontece politicamente. É muito prazeroso e muitas vezes desgastante ter de tomar decisões muito rápidas – aumenta crédito, diminui crédito.” A pandemia é um outro exemplo. “Tivemos de tomar algumas decisões, ocupar espaços que não estavam sendo ocupados. O bom de banco é isso, você poder tomar decisões rápidas e isso também exige uma atenção muito maior.”

Essa ocupação absorvente o faz sentir falta da conexão com a natureza. “Quando eu era pequeno gostava muito de ficar na praia com meus amigos. Devia ter aproveitado um pouco mais”, afirma. Para compensar, ele aproveita ao máximo os finais de semana no Rio de Janeiro. “O contato com a natureza me recarrega as baterias. Adoro fazer trilhas, caminhadas, ou ir para a praia.” Fora isso, gosta muito de encontrar os amigos. “Eu falo muito, mas também gosto de ouvir, aprender com a pluralidade, com as experiências dos outros.”

É esse tipo de postura que o fez chegar ao ápice da carreira – e que mantém sua energia para começar tudo de novo.

Isenção de opinião: Este texto é de responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a opinião da Bloomberg.


A Bloomberg convidou os “<GO> GETTERS” do mercado financeiro na América Latina a compartilhar os insights mais significativos de suas carreiras, descrevendo os sucessos alcançados e os desafios que enfrentaram no percurso, tanto como testemunhas do desenvolvimento deste ambiente acelerado quanto como contribuintes ativos de sua evolução, criando novas ferramentas, compartilhando melhores práticas e inspirando mudanças.

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