Perspectiva de vendas da Rússia é a pior do Bric por causa de petróleo e recessão

Por Elena Popina e Ksenia Galouchko.

A Rússia é o destaque entre os maiores mercados emergentes nestes dias, mas por todos os motivos errados.

Em dificuldades decorrentes da primeira recessão do país desde 2009, do fato de o petróleo estar sendo vendido pela metade de seu preço médio de cinco anos e das sanções internacionais ligadas ao conflito com a Ucrânia, as empresas russas estão a caminho de registrar a maior queda nas vendas dos quatro países do chamado Bric, mostram dados compilados pela Bloomberg. A previsão é de que outros dois, o Brasil e a Índia, também desabem e de que a China cresça modestamente.

As 50 companhias listadas no Micex, o índice de referência, vão registrar um declínio médio de 17 por cento das receitas denominadas em rublos nos próximos doze meses, segundo estimativas dos analistas. Em dólares, a previsão é de uma queda de 25 por cento. A projeção de vendas das companhias do Índice Standard Poor’s 500, a referência para as ações dos EUA, é de um aumento de 2,5 por cento.

O PIB da Rússia está se contraindo porque uma diminuição dos preços da energia e várias sanções, inclusive restrições ao financiamento internacional, atingiram o rublo e abalaram uma economia que depende do petróleo e do gás para gerar cerca de metade da receita orçamentária do governo. Os analistas vêm ampliando suas estimativas de queda do PIB deste ano e não veem uma retomada do crescimento antes do segundo trimestre de 2016.

“Considerando o desmoronamento do petróleo, a queda do rublo e a deterioração da situação macroeconômica, observa-se que não há muitos motivos para ser otimista”, disse Paul Christopher, estrategista-chefe de investimentos internacionais com sede em St. Louis do Wells Fargo Investment Institute, que supervisiona US$ 1,7 trilhão, em entrevista por telefone. “Isso é o que acontece quando a economia está construída ao redor do petróleo”.

Contração

A economia do maior exportador de energia do mundo, que se expandiu em média 5,6 por cento durante a primeira década do século 21, provavelmente se contrairá 3,6 por cento neste ano e crescerá apenas 0,5 por cento em 2016, segundo a média de 40 estimativas de analistas compiladas pela Bloomberg. O rublo, da Rússia, é mais uma vez a moeda com o pior desempenho dos mercados emergentes, com uma desvalorização de 23 por cento nos últimos três meses após ter tido o melhor desempenho dentre as principais moedas no começo deste ano.

O desmoronamento dos preços das commodities, um dólar mais forte e a desaceleração econômica da China dificultaram o crescimento dos países em desenvolvimento. Os ativos brasileiros despencaram em meio a uma investigação sobre corrupção no governo, à especulação de um impeachment e a um rebaixamento do rating soberano. Na China, os responsáveis pela política econômica desvalorizaram a moeda na semana passada, a mais recente medida para tentar impulsionar o crescimento econômico mais lento em 25 anos. Na Índia, cresce a pressão para acelerar reformas fiscais e regulatórias que o primeiro-ministro Narendra Modi tem tido dificuldades para implementar.

Brasil

Os analistas preveem uma queda de 15 por cento em moeda local nos próximos doze meses nas vendas das empresas do índice Ibovespa do Brasil. A previsão é de que as vendas das companhias indianas cairão 1,8 por cento. E de que os membros do Shanghai Composite Index reportarão um aumento de 2,3 por cento.

O petróleo bruto Brent, variedade de petróleo utilizada pelos traders para precificar a principal mistura de exportação da Rússia, caiu menos de 0,1 por cento, para US$ 49,13 por barril na segunda-feira. A Rússia vai passar um período de dois anos de contração econômica se os preços do petróleo bruto se mantiverem em US$ 60 até 2016, incluindo um recuo de 1,2 por cento no ano que vem, segundo o banco central.

“A situação dos ganhos em lugares como a Rússia, mas também em um país como o Brasil, por causa das commodities, por causa da moeda e por causa da economia, é horrível e reflete o atual ciclo econômico”, disse Geoffrey Dennis, diretor de estratégia mundial de mercados emergentes da UBS Securities, em entrevista por telefone.

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