Perspectiva para ativos latino-americanos clareia após eleições

Por Pablo Gonzalez

As nuvens políticas estão se dissipando e um dos maiores gestores de recursos da América Latina gosta do que vê.

“Agora que a rodada de eleições na região terminou, demanda e confiança estão aumentando e esperamos um segundo semestre mais forte, que nos ajudará a atingir retorno de 7 por cento”, disse Ignacio Calle, presidente da Sura Asset Management, em entrevista realizada em seu escritório em Medellín, na Colômbia.

Calle supervisionava US$ 142 bilhões em 31 de março. Ele afirma estar convencido de que a turbulência iniciada com a derrapada das bolsas nos EUA em fevereiro e intensificada com o começo de uma guerra comercial pelo presidente Donald Trump vai dar lugar a condições estáveis no mercado.

“Mesmo que 2018 não seja tão brilhante para a firma quanto 2017, nossa projeção estocástica aponta recuperação no segundo semestre”, disse o gestor de 45 anos. A análise dele exclui o Brasil, onde a Sura não atua.

A Sura Asset Management foi criada em 2011, quando o Grupo de Inversiones Suramericana fechou acordo para compra das operações locais do ING Groep por US$ 3,6 bilhões. Em 2017, o retorno líquido da firma chegou a 11 por cento, embalado por fundos focados em moedas locais. O fundo voltado para o sol peruano proporcionou um retorno extraordinário de 28 por cento.

Efeito Trump
Quase três quartos dos investimentos da firma são feitos por meio de 400 fundos na América Latina. O resto está aplicado nos EUA (principalmente em títulos do Tesouro), Europa, Japão e Ásia-Pacífico. A Sura é a maior operadora de contas individuais de poupança para previdência na América Latina, com 19,2 milhões de clientes.

Boa parte do retorno gerado no ano passado foi cortesia das medidas de Trump, que Calle considera altamente positivas para os mercados de capitais. Ironicamente, a guerra comercial deflagrada pelo presidente no começo do ano teve o efeito oposto sobre as taxas de retorno obtidas pela Sura.
“As decisões dele têm grande impacto sobre nossas taxas de retorno, ainda que a maioria dos nossos investimentos esteja na América Latina, por causa do efeito dominó das decisões dele sobre os investidores”, ele explicou.

A previsão da Sura para o segundo semestre se baseia nas hipóteses de que o banco central americano (Federal Reserve) continuará subindo os juros e que a situação geopolítica na América Latina se estabilizou após as eleições presidenciais no México e Colômbia. Ele só não está otimista em relação à Venezuela, que parece caminhar para o caos mesmo com o presidente Nicolás Maduro mais seguro no cargo.

Estas são as opiniões de Calle sobre a América Latina:

  • Colômbia: Os indicadores macroeconômicos já vinham melhorando e a eleição de Iván Duque à presidência vai gerar impulso adicional. As empresas vão ampliar investimentos e despesas operacionais, aumentando a oferta de emprego e o consumo, atraindo recursos de investidores locais e, especialmente estrangeiros. “Estamos ávidos para comprar novos títulos dos emissores tradicionais e de novos emissores.”
  • Chile: O governo do presidente Sebastián Piñera é considerado competente pelos investidores. “Ótimos indicadores macroeconômicos avançarão com as reformas estruturais que o governo dele vai enviar em breve ao Congresso.”
  • México: Os preços dos ativos financeiros já embutem a vitória triunfal do candidato de esquerda Andrés Manuel López Obrador (conhecido como AMLO) à presidência. O peso se depreciou o suficiente e os investidores vão voltar quando descobrirem que López Obrador tentará atrair o empresariado como parceiro no projeto de fortalecer o país. “Posso vê-lo com um discurso favorável ao mercado.”
  • Argentina: A linha de crédito de US$ 50 bilhões acertada com o Fundo Monetário Internacional e a decisão da MSCI de promover o país a mercado emergente pela primeira vez em quase uma década “permitirão que eu, como gestor de carteira, tenha maior exposição a ativos argentinos”.

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