Petrobras não é única empresa estatal que não é amada pelos traders de bonds

Por Ben Bain.

As empresas estatais estão percebendo que o apoio do governo já não é mais o mesmo.

A queda das commodities, um escândalo de corrupção envolvendo a Petrobras e a desaceleração do crescimento global estão diminuindo a demanda pelas chamadas dívidas quase soberanas nos mercados emergentes, e as empresas apoiadas pelo Estado do Brasil, da África do Sul, da Colômbia e do México são as que estão se saindo pior. Os investidores exigiram 1,09 ponto percentual a mais que a dívida soberana para manter os bonds de 200 emissoras estatais neste mês, contra 0,63 por cento em dezembro, segundo o Barclays Plc, cujos índices incluem US$ 556 bilhões em títulos quase soberanos.

As dívidas das produtoras de petróleo, empresas de serviços públicos e bancos apoiados pelo Estado dos mercados emergentes têm sido os títulos mais atingidos pela recente corrida para venda global de títulos com os yields mais elevados. Essa é uma mudança drástica para muitos dos bonds, que são vistos como menos arriscados do que empresas similares sem apoio estatal por causa de uma garantia implícita do governo. Confrontados com o acúmulo de prejuízos, os investidores começaram a questionar a firmeza desse apoio soberano, segundo o Bank of Nova Scotia.

“Parece que as pessoas estão prestando mais atenção nesses tipos de risco”, disse Joe Kogan, chefe de estratégia de mercados emergentes do Scotia, de Nova York. “Eu comecei a receber ligações e perguntas que nunca tinha recebido dos investidores, como sob que condições você pode ter um calote de um título quase soberano e não de um soberano e sob quais condições você resgataria um título quase soberano”.

Kogan pesquisa e escreve sobre o risco dos títulos quase soberanos desde 2007, pelo menos, quando era analista do Lehman Brothers Holdings Inc.

Garantia pressuposta

Das empresas petrolíferas controladas pelo Estado, como a Petróleos Mexicanos, até bancos apoiados pelo governo, como o Export Credit Bank of Turkey, os créditos quase soberanos dos mercados emergentes por muito tempo atraíram investidores estrangeiros em busca de yields mais elevados do que os que eles obteriam com notas do governo. Os governos geralmente não saem dizendo que honrarão as obrigações se as coisas saírem mal, mas os investidores presumem que é isso o que eles fariam.

“A ideia que se tem é que eles não são garantidos explicitamente, mas que o governo seria tolo se não interviesse”, segundo Wilbur Matthews, CEO da Vaquero Global Investment LP em San Antonio, EUA, que gerencia US$ 100 milhões em dívidas de mercados emergentes, a maioria delas em bonds de yields altos.

Contudo, esse cálculo está mudando no Brasil, onde pelo menos duas empresas de classificação de crédito já rebaixaram para o status de grau especulativo a Centrais Elétricas Brasileiras SA, empresa de energia controlada pelo Estado conhecida como Eletrobras, e a gigante petrolífera Petrobras, ao passo que a Standard Poor’s retirou a nota soberana de investimento. No México, a Moody’s Investors Service sinalizou em agosto que poderia cortar a classificação de crédito A3 da Pemex devido às preocupações quanto aos níveis crescentes de dívida, embora não tenha indicado que a classificação do governo esteja sob risco.

Brasil

Os problemas das dívidas quase soberanas no Brasil se centram na Petrobras, maior emissora corporativa de grau especulativo dos mercados emergentes, com US$ 56 bilhões em bonds em circulação. A empresa está sendo investigada por sua participação em um esquema de propinas na chamada Operação Lava Jato. O escândalo provocou pedidos de impeachment da presidente Dilma Rousseff, embora ela diga que não sabia de nada a respeito de nenhuma irregularidade.

“Existe uma considerável escola de pensamento que agora acha que o governo poderia tentar se distanciar da Petrobras, ou que a influência soberana sobre a empresa talvez seja prejudicial para os credores”, disse Matthews, da Vaquero, que vem reduzindo a posse de títulos quase soberanos sob a expectativa de que ainda haverá corrida para venda. “Esse fator desconhecido está sendo de certo modo reprecificado pelo mercado”.

A dívida da Petrobras se recuperou nas últimas duas semanas depois que a empresa desencadeou uma alta recorde dos bonds com um aumento-surpresa do preço do combustível. Ainda assim, o total de US$ 2,5 bilhões em bonds em dólares da empresa com vencimento em março de 2024 perdeu mais de 14 por cento neste ano.

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