Petróleo pode ter atingido piso após cortes de produção, diz AIE

Por Grant Smith.

Os preços do petróleo podem ter deixado para trás seu ponto mais baixo. A queda da oferta de fora da Opep e os distúrbios dentro do grupo estão corroendo a fartura global, disse a Agência Internacional de Energia.

A produção de fora da Organização dos Países Exportadores de Petróleo terá um declínio de 750.000 barris por dia neste ano, ou 150.000 barris por dia a mais que o estimado no mês passado, disse a agência. Os mercados estão sendo respaldados também por perdas de produção no Iraque e na Nigéria e pelo fato de o Irã estar restaurando sua produção mais lentamente que o planejado após o fim das sanções internacionais, segundo a agência.

“Há sinais de que os preços poderiam ter tocado o ponto mais baixo”, disse a assessoria com sede em Paris que atende 29 países, em seu relatório mensal ao mercado, na sexta-feira. “Para os preços, pode haver luz no fim de um túnel que tem sido longo e escuro”, porque as forças do mercado estão “fazendo sua mágica e as produtoras de custo mais elevado estão cortando a produção”.

Os preços do petróleo se recuperaram 50 por cento em relação às mínimas dos últimos 12 anos atingidas em janeiro em um momento de recuo da produção de xisto dos EUA e após alguns membros da Opep, liderados pela Arábia Saudita, chegarem a um acordo preliminar com a Rússia para manter a produção nos níveis atuais. É improvável que esse acordo de “congelamento” cause um impacto substancial nos mercados no primeiro semestre do ano, embora atualmente esteja respaldando os preços, disse a AIE.

Mudança de visão

A visão da agência para os preços mudou em relação ao relatório do mês passado, no qual disse que o petróleo poderia cair ainda mais porque o mercado continuava “inundado de petróleo”. Os futuros do brent eram negociados em cerca de US$ 40 o barril em Londres na sexta-feira.

A perspectiva para o equilíbrio de oferta e demanda no primeiro semestre continua “essencialmente inalterada” em relação ao mês passado, disse a AIE. O consumo mundial de petróleo aumentará em 1,2 milhão de barris por dia, ajudando a reduzir o excedente global de 1,7 milhão de barris por dia do primeiro semestre para 200.000 por dia nos últimos seis meses do ano. No mês passado, a agência projetou que o excedente seria de 300.000 por dia no segundo semestre. A agência repetiu que poderia reduzir a estimativa de demanda à medida que a recuperação dos preços reduzir o apetite dos EUA por gasolina.

Os estoques do mundo desenvolvido tiveram uma contração no mês passado pela primeira vez em um ano em relação aos níveis “confortáveis” registrados em janeiro, segundo o relatório.

Retorno do Irã

O retorno do Irã, depois que o acordo nuclear de janeiro cancelou as sanções à venda de petróleo pelo país, “tem sido menos drástico do que os iranianos disseram que seria” e a recuperação adicional será “gradual”, disse a agência. O país-membro da Opep havia prometido recuperar uma produção de 500.000 barris por dia logo após o fim das sanções, mas em vez disso a ampliou em 220.000 barris por dia em fevereiro, para 3,22 milhões, ainda assim o nível mais elevado em quatro anos.

A produção dos 13 membros da Opep teve um declínio de 90.000 barris por dia, para 32,61 milhões por dia em fevereiro, porque a expansão do Irã foi compensada por declínios no Iraque, na Nigéria e nos Emirados Árabes Unidos. A Opep ainda está bombeando 700.000 barris por dia a mais que a quantidade média exigida pelo grupo neste ano, mostram dados da AIE.

Cerca de 600.000 barris em exportações do Iraque foram paralisados pelo fechamento do duto de exportação do norte do país, e a suspensão das remessas do tipo Forcados pela Nigéria — equivalente a 250.000 barris por dia — “poderá continuar por algum tempo”.

A produção de petróleo dos EUA terá um declínio de 530.000 barris por dia neste ano porque a queda dos preços causará impactos nos investimentos e nas perfurações, disse a AIE. A agência reduziu também sua perspectiva para a oferta do Brasil e da Colômbia.

“Sem um aumento das expectativas para a demanda, as fornecedoras de petróleo de alto custo continuarão suportando o peso do processo de equilíbrio do mercado”, disse a agência. “Está claro que o rumo atual é o correto, embora haja um longo caminho pela frente”.

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