Pinturas retratando homens valem menos do que as de mulheres

Por James Tarmy.

Ninguém sabe se a artista e socialite da Era do Jazz, Tamara de Lempicka, dormia com Guido Sommi quando pintou o retrato dele em 1929. “Achamos que ele era amante dela”, disse Jeremiah Evarts, diretor da noite de vendas de obras de arte impressionistas e modernas da Sotheby’s. “Mas é verdade que ele era casado na época”. O que está claríssimo, no entanto, é que o retrato de Sommi é um exemplo raro de um período que James Carona, um dos proprietários da Heather James Fine Art, descreve como o auge da produção artística de Lempicka. “Digamos de 1925 a 1932”, disse ele. “Esse é o momento mais brilhante.”

O retrato de Sommi fez parte de uma coleção particular durante mais de 40 anos; agora, ele está chegando à Sotheby’s New York com um valor estimado de US$ 4 milhões a US$ 6 milhões. Embora essa faixa coloque firmemente a obra dentro dos dez melhores preços de Lempicka em um leilão, ela está muito abaixo do recorde da artista, atingido cinco anos atrás com uma pintura posterior e menor que foi vendida por US$ 8,5 milhões na Sotheby’s em Nova York.

Além disso, a estimativa para o retrato de Sommi é uma ninharia se comparada com os preços pelos quais a obra de Lempicka teria sido vendida no mercado particular. “Alguns Lempicka chegaram a ser negociados por US$ 15 milhões e até US$ 20 milhões”, segundo Carona, que disse que vendeu cinco grandes obras de Lempicka e que venderia mais se conseguisse encontrar alguma. “Eu tenho clientes que estão procurando ativamente essas obras do período de maior plenitude”, explicou. “E, apesar de meus esforços, não consigo encontrá-las.” Na verdade, disse Carona, ele respondeu recentemente a uma oferta não solicitada em nome de um cliente. “Ofereceram US$ 12 milhões por um Lempicka”, disse ele. “E o cliente recusou.”

O que diferencia o Lempicka da Sotheby’s de suas obras que são negociadas pelo dobro e até pelo triplo do preço? A resposta, disse Carona, é o sexo. “Não há dúvida quanto a isso”, disse ele. “Figuras masculinas são vendidas por um preço menor.” Isso também é corroborado nas vendas públicas de obras de Lempicka. Suas cinco obras de arte de melhor desempenho em leilão foram retratos femininos; 17 de suas 20 maiores vendas públicas também são de mulheres.

Não existe uma razão única para essa discrepância, mas Evarts considera que isso se resume a dois pontos: a questão mais ampla, disse, é que “se analisamos para a história da arte, existem mais retratos de mulheres do que de homens”. Essa preponderância das mulheres nas telas pode ter contribuído para uma cultura em que os retratos femininos são mais aceitos e, portanto, melhor avaliados, que os equivalentes masculinos.

A segunda razão, disse Evarts, refere-se especificamente ao mercado de Lempicka. “Na verdade, apenas dois retratos masculinos importantes foram a leilão”, disse ele. “Quando só existem duas opções, é difícil criar um mercado — não é possível indicar muitos resultados para justificar um preço.”

E também há um terceiro motivo: a Sotheby’s poderia estar sendo (deliberadamente) muito modesta em suas expectativas. “Esse é um número conservador”, disse Carona. “As casas de leilão querem vender e os colecionadores podem se entusiasmar achando que vão conseguir a obra por tão pouco.”

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