Piora global da atividade industrial agrava desafios para BCs

Por Jeff Kearns e Christopher Condon.

Indicadores que acompanham a produção industrial nas maiores economias do mundo derraparam no final do ano passado, impondo novos desafios para o crescimento global e para os bancos centrais em 2019.

Em dezembro, o índice de manufatura global calculado por JPMorgan Chase e IHS Markit caiu para o menor patamar desde setembro de 2016, derrubado por componentes que acompanham encomendas e contratações, de acordo com dados divulgados na quarta-feira. Outros relatórios recentes da IHS Markit mostraram piora da situação nas fábricas em países asiáticos voltados para exportação: a China sinalizou contração pela primeira vez desde meados de 2017 e Taiwan, Malásia e Coreia do Sul também sugerem recuos. Na zona do euro, a expansão industrial é a menor em quase três anos.

Nos EUA, aumentam as evidências de que a guerra comercial deflagrada pelo presidente Donald Trump está se tornando um problema maior para a indústria. Todos os cinco índices do banco central (Federal Reserve) que acompanham a atividade de manufatura em nível regional sofreram quedas em dezembro. Foi a primeira vez que todos caíram ao mesmo tempo desde maio de 2016.

O acúmulo de dados fracos pode intensificar a pressão sobre o Fed para sinalizar uma pausa imediata no ritmo trimestral de acréscimos na taxa básica de juros. As autoridades já avisaram que pretendem desacelerar o ritmo de elevações neste ano.

A tensão comercial entre EUA e China vem prejudicando a demanda nos grandes polos industriais da Ásia e nas economias europeias orientadas para exportação, como a Alemanha. Em outubro, o Fundo Monetário Internacional reduziu as projeções para o crescimento global em 2018 e 2019, citando as incertezas no comércio internacional.

O banco central chinês avisou na quarta-feira que ajustará o cálculo do depósito compulsório para algumas instituições financeiras, em uma tentativa de maximizar o impacto de uma medida anterior para estimular a economia. O crescimento na segunda maior economia do mundo deve recuar para 6,6 por cento em 2018 — a menor taxa em quase três décadas — e continuar diminuindo neste ano e em 2020.

Nos EUA, os economistas também preveem menor expansão da atividade e do emprego, com o esvaziamento do impacto do estímulo fiscal que entrou em vigor no começo de 2018. Além disso, a paralisação parcial do governo americano adiou a divulgação de alguns indicadores, incluindo os que tratam do comércio exterior, atrapalhando o trabalho de economistas e investidores que buscam informações atualizadas sobre a situação da economia.

O Global Trade Checkup, calculado pela Bloomberg, vem recuando após um salto causado pela antecipação de encomendas para evitar tarifas de importação. Embora Trump tenha sinalizado que as negociações com a China estão progredindo, economistas temem que as conversas travem antes do final do prazo, em 1º de março. Representantes do governo americano não revelaram sua opinião sobre as medidas da China para aliviar a tensão nas conversas, criando a impressão de que as reformas de Pequim não serão satisfatórias para Trump.

O presidente do Banco Central Europeu, Mario Draghi, citou o protecionismo como um dos grandes riscos para a zona do euro em 2019, junto com as vulnerabilidades de países emergentes e a volatilidade dos mercados financeiros.

O crescimento econômico na Europa sofreu uma freada no segundo semestre de 2018 e não há indícios de que tenha se recuperado no final do ano. O índice IHS Markit que acompanha a indústria na zona do euro caiu em dezembro, derrubado por França e Itália, que são as maiores economias da região depois da Alemanha. Na Itália, a atividade industrial encolheu pelo terceiro mês consecutivo em dezembro, sinalizando outra recessão após a contração inesperada da economia no terceiro trimestre.

Exportadores da zona do euro estão fazendo cortes diante das preocupações com o protecionismo global, que se somam a problemas domésticos nos setores automotivo e bancário. O Brexit agrava o quadro. Companhias britânicas estão adiando investimentos e estocando produtos, temendo que o Reino Unido saia da União Europeia sem um acordo de transição.

Diante dessa perspectiva nebulosa, investidores apostam que o BCE e o Banco da Inglaterra não conseguirão subir os juros em 2019.

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