Plano de Yellen para aquecer mercado de trabalho remete a era de alta pressão dos anos 1970

Por Rich Miller.

Janet Yellen está implementando uma política monetária que lembra a época das calças jeans boca de sino e dos títulos do New York Knicks no basquete americano. E isso deixou alguns economistas preocupados.

Em uma medida pouca ortodoxa, a presidente do Fed sinalizou sua intenção de manter as taxas de juros baixas o bastante para empurrar temporariamente o índice de desemprego a um nível um pouco abaixo de sua taxa natural de longo prazo. Ela descreveu, no mês passado, em um discurso, como um mercado de trabalho apertado poderia atrair trabalhadores desencorajados de volta à mão de obra, expandir os empregos em tempo integral, aumentar os salários e possivelmente melhorar a eficiência.

“Não há problema em administrar o que eu chamaria de uma economia de alta pressão no momento”, disse John Williams, que assumiu o lugar de Yellen como presidente do Fed de São Francisco, em 2011, a repórteres, em 1° de outubro. “Isso ajudará a trazer a inflação de volta aos 2 por cento rapidamente, o que é importante”.

Os críticos, como o ex-alto-funcionário do Fed Athanasios Orphanides, dizem que esse é o tipo de política que o Comitê Federal de Mercado Aberto, responsável pela fixação da taxa de juros, seguia nos anos 1960 e 1970 –com resultados desastrosos–. A inflação, na época, eventualmente subia a dois dígitos, ampliada pela quadruplicação nos preços do petróleo após o embargo petrolífero árabe, e os salários decolaram depois que o Fed permitiu que o desemprego caísse a apenas 3,4 por cento, em 1968.

Próximo do pleno emprego

Os aumentos nas folhas de pagamento perderam força nos últimos dois meses porque a desaceleração global e a turbulência no mercado financeiro atingiram a economia dos EUA. A taxa de desemprego, contudo, permaneceu estável, porque a contração da mão de obra compensa a queda na geração de empregos. A 5,1 por cento, a taxa de desemprego está pouco acima dos 4,9 por cento que a direção do Fed considera equivalente ao pleno emprego, segundo a estimativa média das avaliações, divulgada em 17 de setembro.

À primeira vista, os temores a respeito do aumento da inflação parecem fora de lugar. Segundo a medição do indicador preferido do Fed, os preços subiram apenas 0,3 por cento em agosto em relação a um ano antes, bastante abaixo da meta do banco central, de 2 por cento.

Contudo, como a própria Yellen pontuou, os estrategistas de política monetária precisam ter visão de futuro porque as mudanças nas taxas de juros afetam a economia com um atraso que pode durar anos.

E é aí que Orphanides enxerga motivos para preocupação. Ele diz que existe um perigo de que a inflação — e, mais importante, as expectativas de inflação — percam o rumo se o Fed estimular um superaquecimento da economia nos próximos anos.

Queda maior

Existe uma ameaça, particularmente, se o desemprego cair mais do que o esperado pelo Fed pelo fato de a mão de obra e as oportunidades de emprego em tempo integral não se expandirem tanto quanto Yellen espera. Nesse caso, até mesmo alguns membros da direção do banco central poderão começar a questionar essa estratégia.

Os estrategistas de política monetária preveem que a taxa de desemprego cairá para 4,8 por cento no quarto trimestre do ano que vem e permanecerá neste nível até 2018, segundo sua projeção média.

Algumas pesquisas do próprio Fed levantam questionamentos a respeito de quanto impacto o banco central terá sobre o tamanho e a composição da mão de obra.

Em um estudo de 90 páginas do ano passado, seis economistas do conselho do Fed em Washington alertaram os estrategistas do banco central a não esperarem que ocorra um aumento substancial de participação na mão de obra juntamente com a melhora do mercado de trabalho. Isso porque boa parte da queda está sendo impulsionada pela aposentadoria da geração nascida após a Segunda Guerra Mundial, que está envelhecendo, e não pelo estado da economia, escreveram eles.

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