Por funcionar como hedge para praticamente qualquer coisa, investidores estão afetando o peso mexicano

Por Isabella Cota.

A virtude do peso mexicano de ser a moeda mais comercializada entre os mercados emergentes é, também, sua principal maldição. Os 135 bilhões de dólares diários movimentados pelo peso fazem o mercado muito mais profundo para o país do que para outros países emergentes nos quais os investidores utilizam a moeda como uma defesa generalizada ao risco. Comprou um título de dívida de empresa brasileira? Venda pesos para cobrir eventuais perdas. Preso com uma grande quantidade de Treasuries? Compre pesos para diminuir a dor, caso o ambiente arriscado se torne hostil. As correlações são altas o suficiente para que os hedges, muitas vezes, funcionem, de acordo com o JPMorgan.

A crise da dívida da Grécia, a quebra do mercado de ações da China e a especulação sobre a possibilidade de o Banco Central dos Estados Unidos começar a aumentar as taxas de juro têm motivado uma onda de volatilidade global que agora está atingindo o peso inadvertidamente. Na Bolsa de Valores de Chicago (CME), as negociações futuras criadas para ter lucro em caso de queda da moeda mexicana atingiram valores recordes.

“As pessoas usam o peso como hedge como usam lenços Kleenex — se eles acham que estão prestes a espirrar, pegam um,” disse Alejandro Silva, sócio da Capital Management, baseada em Chicago, e que tem um portfólio de 180 milhões de dólares. “É uma moeda com liquidez tão grande que quando grandes problemas como a Grécia acontecem e um gestor de investimentos precisa de hedge no seu portfólio, a coisa mais simples a fazer é comprar dólares com os seus pesos.”

Na CME, os investimentos futuros que apostam em uma queda do peso cresceram 28 por cento neste ano, para 81,424 em 21 de julho. Há um ano, mais ou menos, o mesmo número de negociações apostava na alta da moeda. A depreciação foi tão rápida que Morgan Stanley disse, em uma nota de pesquisa publicada em 27 de julho, que cresce muito a probabilidade de o Banco Central do México aumentar os esforços para valorizar o peso.

No início de 2015, analistas previam que o peso iria se valorizar em 9,3 por cento ante o dólar, o que seria a maior valorização em todo o mundo. Em vez disso, caiu em 9,4 por cento, para um recorde 16,2749. O banco francês Société Générale escreveu no seu relatório de 1º de julho que o peso poderia atingir 17 para o dólar.

Os investidores preferem usar o peso como hedge, em parte, por negociar 24 horas por dia, cinco dias por semana. Isso só acontece para duas outras moedas de mercados emergentes — o rand da África do Sul e a lira da Turquia, ambos com um volume de negociação substancialmente menor.

Ao utilizar como base os dados mais recentes do Banco de Compensações Internacionais, o volume diário de negociações do peso é de 135 bilhões de dólares por dia, valor 15 bilhões de dólares maior do que o iuane chinês, a segunda maior moeda mais negociada entre os países em desenvolvimento.
 

tab_pag03

 
Um exemplo clássico recente do fenômeno foi visto no dia 1º de maio, quando a maior parte da América Latina comemorava o Dia do Trabalho. No Brasil, o líder do Senado Federal propôs um plano de estímulo para combater o programa de austeridade da presidente Dilma Rousseff, criado por sua equipe para evitar um corte na sua classificação de risco de crédito. Isso não foi muito noticiado no México, mas o peso caiu 1,2 por cento. A movimentação foi, em grande parte, por conta dos acontecimentos no Brasil, mas a moeda brasileira não estava em negociação, segundo Christian Lawrence, corretor da Rabobank em Nova York.

“O peso mexicano foi atingido, apesar de não ter acontecido nada de destaque no México, mas as manchetes apontavam para estresses no Brasil”, disse Lawrence em entrevista por e-mail. Os investidores estão usando o peso como hedge para enfrentar a queda no preço do petróleo, assim como para lidar com a maior volatilidade no mercado de ações dos Estados Unidos, segundo Siobhan Morden, líder do grupo de renda fixa para América Latina do Jefferies Group.

James Lord, estrategista de macroeconomia global no Morgan Stanley, afirma que o peso é mais barato para pegar empréstimos que o rand e a lira. Por isso, ele é atraente para investidores que querem curto prazo.

Tantos investidores estão buscando o peso que o custo do hedge subiu. Para um contrato de três meses, ele atualmente é anualizado para uma taxa de 3,07 por cento, o pico em 13 meses. Mesmo nesse valor, ainda é uma barganha, defende Lord.

Agende uma demo.