Por que americanos não podem confiar nas assessorias financeiras

Por Ben Steverman.

O seu novo assessor financeiro tem um escritório bem decorado, um aperto de mão firme e um sorriso brilhante. Após uma hora de reunião, você vai embora com o que acredita ser um portfólio de investimento de ponta. Você se sente financeiramente seguro, cuidado.

Mas é possível que você tenha cometido um grande erro. A Casa Branca comandada por Barack Obama estimou que os americanos perdem US$ 17 bilhões por ano por conflitos de interesse entre as assessorias financeiras. Grupos que fazem lobby para Wall Street contestam o número — e estão certos em fazê-lo. A quantia real em dólares provavelmente é muito superior.

Nos últimos anos, uma série de pesquisas documentou problemas sérios nas assessorias financeiras aos americanos. Susan Shaffer, uma aposentada de 70 anos de Narberth, Pensilvânia, aprendeu isso de um jeito difícil depois de contratar e demitir diversas assessorias ao longo de duas décadas. Uma escolheu investimentos inapropriados, incluindo ações de empresas de baixo valor de mercado. Outra a colocou em fundos com pagamentos de enormes comissões no fim dos contratos. A terceira prometeu cobrar apenas US$ 500 por ano, mas depois pediu milhares de dólares em custos de comissão.

Em todas as vezes Shaffer fez sua própria pesquisa. Ela teve aulas, examinou densos extratos bancários e geralmente fazia o trabalho para o qual pagava uma assessoria para fazer. “É preciso estar atento a tudo. Somos muito vulneráveis”, disse Shaffer, que se aposentou há três anos após uma carreira na indústria farmacêutica. “Ninguém cuidou realmente dos meus interesses.”

Consumidores como ela dizem que este é o verdadeiro problema: muitas assessorias financeiras simplesmente não ligam para o que é melhor para você. Mas em um setor inundado por más condutas, o maior problema pode ser o fato de elas não serem obrigadas a cuidar dos clientes.

É normal presumir que sua relação com um assessor financeiro tem o mesmo tipo de solenidade, digamos, de um advogado com seu cliente ou de um médico com um paciente. O advogado é obrigado a representar você com zelo; o médico se compromete a não fazer mal a você. Por que os assessores financeiros não precisam assumir o mesmo dever? Bem, os aspectos econômicos do setor — taxas, comissões, cotas — podem acabar atrapalhando.

A Regra Fiduciária, que foi concluída pelo governo Obama e que originalmente entraria em vigor no início deste ano, busca curar essa desconexão. Todos os assessores seriam obrigados a colocar os clientes em primeiro lugar ao controlarem suas contas de aposentadoria, onde está a maior parte das economias dos americanos. Mas Donald Trump ganhou a eleição, e em seu 15o dia no cargo o presidente republicano ordenou que o Departamento do Trabalho reconsiderasse a regra. Seus assessores ecoaram os argumentos de Wall Street de que deixar os assessores de mãos atadas limitaria as alternativas dos investidores, elevaria o custo da assessoria financeira e desencadearia uma série de litígios.

Nesta sexta-feira, a regra entrará em vigor parcialmente. Mas seu futuro é duvidoso. Muitos republicanos do Congresso são contrários a ela e o secretário do Trabalho, Alexander Acosta, sugeriu que ela será no mínimo revisada. E na semana passada, o presidente recentemente nomeado da Comissão de Valores Mobiliários dos EUA (SEC, na sigla em inglês), o advogado de Wall Street Jay Clayton, anunciou que sua agência também buscaria comentar sobre o tópico, processo que pode representar uma ameaça ainda maior à sobrevivência da regra.

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