Por que nerds dos dados não ganham poder em hedge funds?

Por Simone Foxman.

À medida que hedge funds passam a aceitar os frios cálculos de big data, eles enfrentam algo muito mais humano – uma luta pelo poder.

As empresas têm contratado muitos cientistas de dados e codificadores para cumprir a promessa de investimentos quantitativos e elevar seus retornos medíocres. Mas elas estão descobrindo que a relação entre gerentes tradicionais e analistas quantitativos movidos a dados pode ser turbulenta. Gerentes que confiavam na intuição resistem a ceder controle a cientistas e seus sinais de trading. E os analistas quantitativos, encorajados pelo sucesso de fundos baseados em computadores, como a Renaissance Technologies, se irritam com o status de segunda classe e lutam para ter mais voz nos investimentos.

Há muitas histórias sobre essa aliança incômoda. No Aperio, o grupo de big data da Point72 Asset Management, as metas do chefe de cientistas de dados, Michael Recce, um ex-professor de Sistemas de Informação, entravam em conflito com as exigências de resultados rápidos na cultura de alta intensidade da empresa, segundo pessoas familiarizadas com o assunto. Recce abandonou a empresa de Steve Cohen após cerca de 15 meses e o Aperio está sendo reconstruído. Na BlueMountain Capital Management, alguns analistas quantitativos frustrados com seu papel subordinado saíram e foram para empresas como o Google, onde os tecnologistas são as estrelas.

“Você não pode dizer: ‘vamos contratar alguns doutores e colocá-los na sala dos fundos, eles vão se virar”, disse Vladimir Novakovski, ex-gestor de recursos e diretor de tecnologia da empresa de pesquisa Euclid Analytics, sobre o setor. “Essa é uma forma muito tradicional de pensar. Eles têm que tratar esse pessoal como autoridades onde eles tenham certa influência no processo de investimento”.

A Point72 e a BlueMountain têm sido pioneiras na iniciativa de empresas fundamentais para incorporar modelos corporativos e big data. Mas até mesmo elas enfrentam desafios ao tentar combinar o velho e o novo. Esta reportagem se baseou em entrevistas com mais de 15 pessoas a par dos esforços dessas empresas.

Ted Smith, um porta-voz externo da BlueMountain, de US$ 21,5 bilhões, não quis comentar. O presidente da Point72, Doug Haynes, descartou a existência de um conflito entre analistas quantitativos e gestores de recursos no family office de US$ 11 bilhões.

“A noção de que tenha existido ou exista um conflito entre tecnologistas e administradores de recursos é uma premissa falsa”, disse Haynes em um comunicado enviado por e-mail. “Todos querem descobrir como usar recursos científicos melhores para obter resultados melhores.”

Divisão intelectual

Vários funcionários da Point72 não lembram de que a administração tenha anunciado a criação do Aperio e se surpreenderam ao saber da unidade em eventos como a festa de fim de ano da empresa. A falta de comunicação gerou desconfiança em relação aos analistas quantitativos e preocupações com a influência deles, disseram as pessoas.

A divisão entre os analistas quantitativos do Aperio e os gestores de recursos fundamentais também era intelectual. Eles tinham dificuldade para comunicar o básico, como a forma em que big data poderia fornecer informações para as decisões de investimento. A equipe de Recce, cheia de cientistas de dados e codificadores, desenvolveu sinais de trading, mas nem sempre explicava totalmente a margem de erro na análise para torná-la útil para os administradores de recursos, disseram as pessoas. As relações tensas entre cientistas e gestores podem se comparar a uma reunião entre os capitães de uma equipe inteligente de xadrez e um time de futebol entusiasmado.

Os traders da BlueMountain, por sua vez, muitas vezes consideraram os analistas quantitativos do grupo de Estratégias Quantitativas da empresa, que tem cerca de 50 funcionários, como coadjuvantes no processo de investimento, segundo pessoas familiarizadas com a situação. Isso irritou os tecnologistas, que queriam que o grupo fosse um motor de retornos em vez de ser visto como assistentes contratados para ajudar os gerentes.

Nos próximos anos, os analistas quantitativos provavelmente ganharão peso se suas estratégias produzirem resultados fortes.

“Quem dirige os fundos hoje vem do lado dos fundamentos”, disse Ronaldo Ama, que trabalha com hedge funds para desenvolver tecnologias de aprendizagem de máquinas na consultoria Ayasdi. “De onde você acha que eles virão daqui a 20 anos? Minha hipótese é que, com certeza, eles virão do lado quantitativo.”

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