Por que o Fed está indeciso sobre quando elevar os juros

Por Mohamed A. El-Erian.

Ontem, a tão esperada publicação das minutas da reunião sobre política econômica do Federal Reserve (Fed) do mês passado não ajudou muito a responder de forma decisiva à pergunta na cabeça de muitos participantes do mercado: se o Fed elevará as taxas de juros em setembro, o primeiro aumento em mais de nove anos. As minutas não necessariamente indicaram que o Fed queira esconder o jogo. Em vez disso, elas evidenciaram a complexidade analítica da situação enfrentada pelo banco central.

Há quatro fatores notáveis que estão sendo muito confusos para as autoridades do Fed e, por isso, as levaram a deixar suas opções de política econômica bem abertas – isto é, nem se comprometer com o aumento das taxas, nem descartá-lo para o mês que vem:

Primeiro, os sinais da economia dos EUA se opõem aos os dos mercados internacionais: apesar de estarem longe de ser categóricos, especialmente considerando a fraqueza na inflação e nos salários, as leituras econômicas dos EUA tendem a apoiar o aumento das taxas do Fed já no mês que vem. Mas não é o caso dos dados internacionais. Seja na Europa, no Japão ou nos mercados emergentes, os números apontam claramente para um enfraquecimento da economia mundial e, portanto, sugeririam mais cautela com a política econômica.

Segundo, a fragilidade dos mercados financeiros: nas últimas semanas tem havido fraquezas notáveis em cada vez mais áreas. O que começou como perturbações relativamente localizadas no mercado de petróleo e nas moedas dos mercados emergentes se espalhou – primeiro pressionando os bonds corporativos e, mais recentemente, as ações.

Terceiro, até que ponto o comportamento da economia dos EUA não tem aderido aos modelos do Fed: a imprecisão das projeções do Fed com certeza vai gerar dúvidas na cabeça das autoridades do banco central quanto à robustez de sua compreensão dos desenvolvimentos econômicos. Quanto mais amplas forem estas questões e quanto mais elas persistirem, mais as autoridades do Fed temerão os riscos na hora de embarcar em uma mudança na política de taxas.

Quarto, a divergência entre as políticas dos bancos centrais: as deliberações do Fed sobre um ajuste contrastam fortemente com a postura estimuladora adotada por outros bancos centrais. Essa diferença provavelmente se intensificará, em particular com o Banco Central Europeu, o Banco do Japão e o Banco Popular da China. Outra consideração: a desvalorização da moeda da China na semana passada pressionou muitas moedas de mercados emergentes, fazendo com que os banqueiros centrais dos EUA se sintam desconfortáveis com o risco de um aumento de taxas que fortaleça o dólar. Isso poderia comprometer a capacidade do exportação dos EUA para concorrer e minaria a decolagem econômica do país.

Em suma, o Fed não teve escolha a não ser soar, mais uma vez, como indeciso – o que não é tão surpreendente considerando o grau de incerteza com que a instituição está lidando. Como tal, o Fed continuará evitando um compromisso até o último minuto antes da reunião sobre política econômica em setembro. E, a fim de garantir que suas opções estejam bem abertas, também dobrará os esforços para desviar a atenção do mercado do momento escolhido para o primeiro aumento e direcioná-la aos três elementos que caracterizariam este ciclo de altas iminentes das taxas, que eu gosto de chamar de ‘o ajuste mais frouxo na história do Fed’: um caminho muito superficial para futuros aumentos, um processo de tomada de decisões extremamente dependente dos dados e um teto para as taxas da política econômica abaixo da média histórica.

Esta coluna não necessariamente reflete a opinião do conselho editorial nem da Bloomberg LP e de seus proprietários.

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