Por Christoph Rauwald e David Rocks.
Nos anos em que supervisionou o desenvolvimento dos Porsches Cayman e Boxster, ambos de dois assentos, Stefan Weckbach nunca enfrentou um obstáculo como o que encontrou ao levar o primeiro carro totalmente elétrico da companhia ao mercado: a acústica. Os veículos elétricos, pelo que parece, podem ser silenciosos demais para serem considerados um Porsche. “Nossos clientes gostam muito do som”, diz Weckbach, que chefia a iniciativa da marca para lançar um sedã elétrico em 2019. “Eles nos disseram, ‘nós gostamos do som dos seus motores e esperamos algo similar em um carro elétrico.’”
Nos últimos dois anos, Weckbach liderou uma equipe de cerca de 30 pessoas que está desenvolvendo o Mission E, um sedã de quatro portas que parece um Panamera em menor escala. A equipe — cada integrante especializado em áreas como design, logística ou finanças — é uma pequena parcela dos milhares de especialistas da Porsche que lidam com desafios que vão do arcano (a força das dobradiças das portas) ao fundamental (o modelo será um roadster ou um SUV?).
A iniciativa da Porsche surge em um momento em que o setor começa a prestar mais atenção nos carros elétricos e em que a União Europeia prepara regras para entrarem em vigor em 2020 que restringirão drasticamente os limites sobre as emissões de dióxido de carbono. A Mercedes-Benz criou uma nova marca, a EQ, para seus carros de emissão zero. A Audi, marca irmã da Porsche na Volkswagen, planeja um SUV movido a bateria em 2018 e pelo menos mais dois elétricos até 2020. A BMW, que lançou seu carro urbano i3 elétrico em 2013, está preparando um SUV e um Mini elétricos. E a Tesla tem visto vendas fortes de seu Model S, de mais de US$ 65.000, e planeja começar a vender no ano que vem o Model 3, que custa US$ 35.000.
A recarga veloz, segundo a Porsche, será uma vantagem importante de seu carro: o conjunto de baterias de 800 volts contrasta com o de 400 volts que se tornou padrão no setor. A tecnologia da Porsche permitirá que os clientes recarreguem suas baterias em 80 por cento — para uma autonomia de cerca de 400 quilômetros — em 15 minutos, afirma a Porsche. E os cabos mais leves exigidos para o sistema permitiram que a companhia cortasse cerca de 22 quilos do carro, o que pode ampliar ainda mais sua autonomia. Com 600 cavalos de potência, aceleração de 0 a 100 quilômetros por hora em 3,5 segundos e uma velocidade máxima de 240 quilômetros por hora, o carro “será um Porsche de verdade”, diz Weckbach.
Um Porsche de verdade em tudo, menos no ronco do motor. Weckbach diz que nos primeiros testes os clientes reclamaram que o carro era silencioso demais. Sem a movimentação de pistões, pequenos barulhos que antes passariam despercebidos serão ouvidos — o que tem levado a equipe de Weckbach a buscar formas de apertar cabos com mais firmeza e selar o compartimento do passageiro para deixar de fora o barulho do vento e dos pneus, antes inaudíveis. E eles vêm flertando com formas de tornar o carro mais barulhento, sejam com um som gravado ouvido na cabine, mas não do lado de fora, seja com a amplificação do zumbido agudo dos motores elétricos. Quando o carro foi exibido em Frankfurt, conta, os fãs mais fervorosos da Porsche fizeram outra sugestão para evitar qualquer tipo de problema. “Muitas pessoas disseram ‘gostei’”, diz Weckbach, “‘mas posso ter um desses com um motor V8?’”.
Entre em contato conosco e assine nosso serviço Bloomberg Professional.