Por Aline Oyamada e Ben Bartenstein.
A mera possibilidade de o banco central dos EUA pausar os acréscimos nos juros no ano que vem levou algumas gestoras de recursos a reavaliar os ativos de países emergentes – começando pelos que mais apanharam recentemente.
Aberdeen Standard Investments, Schroders, Goldman Sachs Asset Management e BlackRock dirigiram um novo olhar a esses mercados após o vice-presidente do Federal Reserve, Richard Clarida, afirmar na semana passada que há “alguma evidência” de desaceleração da economia mundial.
Um ritmo mais lento de aumentos nos juros nos EUA enfraqueceria o dólar e ajudaria os ativos de nações emergentes, que rendem mais para compensar o risco.
“Se o Fed pausar, será como uma maré cheia que pode levantar todos os barcos nos mercados emergentes”, disse Edwin Gutierrez, gestor da Aberdeen em Londres. Ele está inclinado a aumentar a exposição aos ativos que mais sofreram, como títulos de alto rendimento, dívidas emitidas por países considerados mercados de fronteira e moedas de nações em desenvolvimento.
Na semana passada, Clarida afirmou que a taxa básica de juros nos EUA está se aproximando da neutralidade e citou a possibilidade de desaceleração da economia mundial. Já o presidente da instituição, Jerome Powell, mencionou a perspectiva de menor demanda global. Em seguida, o tombo das ações de tecnologia derrubou o S&P 500 para o menor nível em cinco meses, levando economistas a questionar se a economia pode sofrer mais pressão do que se imaginava.
O consenso no comitê de política monetária (FOMC) ainda é de continuidade dos aumentos de juros e a expectativa geral é de outro acréscimo no mês que vem. Em 2019, no entanto, uma pausa é totalmente plausível, segundo Jan Dehn, chefe de pesquisa da Ashmore Group, que supervisiona US$ 76 bilhões. O profissional, que trabalha de Londres, prefere títulos de dívida brasileiros, ações chinesas e a coroa checa nesse quadro mais favorável para mercados emergentes.
Chris Diaz, gestor de recursos da Janus Capital Management em Denver, nos EUA, acha razoável o Fed pausar se o crescimento da economia americana diminuir e a inflação ficar sob controle. Neste caso, ele daria preferência a moedas de alto beta (volatilidade), como o real, o rand sul-africano e talvez a lira da Turquia.
Quanto mais alto, maior a queda
Mas ainda há muita cautela entre os investidores.
Goldman Sachs Group e JPMorgan Chase mantêm previsões de que o Fed elevará os juros mais cinco vezes até o final de 2019, mesmo com a turbulência nos mercados financeiros.
Relatórios recentes dos dois bancos argumentam que o banco central subirá a taxa básica em dezembro, até chegar a 3,50 por cento no fim do ano que vem.
Para o estrategista de câmbio Brendan McKenna, do Wells Fargo, em Nova York, as cotações dos ativos emergentes não condizem com a perspectiva para o Fed.
“Nós acreditamos que o Fed aumentará os juros pelo menos três vezes no ano que vem, talvez quatro”, disse ele. “Se o Fed apertar mais rápido do que os mercados esperam, o impacto óbvio nas moedas de países emergentes seria bastante negativo.”
McKenna está particularmente receoso quanto à lira porque o governo da Turquia ainda não fez os ajustes necessários. O peso do Chile também correria risco, segundo ele, porque a maior parte da dívida pública é denominada em dólares.
“É difícil argumentar que Powell ou o Fed como um todo está prestes a acionar o botão para pausar”, disse Sonja Gibbs, diretora sênior do Instituto de Finanças Internacionais, em Washington. Ainda assim, “se os investidores ficarem mais convencidos de uma pausa pelo Fed, os ativos de países emergentes em geral irão bem, especialmente os títulos denominados em moeda local porque o dólar ficaria mais fraco nesse cenário.”
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