Possível swap de dívida na Petrobras deixa acionistas em alerta

Por Denyse Godoy, Ney Hayashi e Paula Sambo, com a colaboração de Filipe Pacheco, Francisco Marcelino e David Biller.

Em seu auge, em 2008, a Petrobras era a quinta maior empresa do mundo e estava avaliada em US$ 310 bilhões. Desde então, a empresa perdeu mais de 90 por cento de seu valor de mercado, e a recente especulação sobre um possível swap de dívida por ações ameaça punir ainda mais os acionistas.

O valor de mercado Petrobras é de apenas US$ 19 bilhões, com suas ações sendo negociadas perto de US$ 1 — e alguns analistas dizem que o valor real do papel é zero. Sem solução fácil para a dívida mais elevada do setor de petróleo, aumenta a especulação de que o governo adotará medidas para assegurar os pagamentos de dívidas à custa dos acionistas. As ações da empresa são negociadas a apenas 0,21 vez o valor contábil da companhia, menor proporção entre seus pares do setor de petróleo, segundo dados da Bloomberg.

Existe uma “genuína possibilidade” de que os bancos estatais convertam um total estimado em dívidas de R$ 87 bilhões (US$ 22 bilhões) em ações, em uma medida que diminuiria os pagamentos, disseram analistas do Banco BTG Pactual em um relatório com data de 15 de fevereiro. No dia seguinte, a Reuters, citando pessoas que pediram anonimato, disse que o governo está estudando uma medida desse tipo. Em janeiro, a presidente Dilma Rousseff havia dito que seu governo estaria disposto a avaliar uma ajuda do governo à produtora controlada pelo Estado.

A Petrobras preferiu não comentar. Em janeiro, o diretor financeiro da empresa, Ivan Monteiro, disse a repórteres que a empresa não estudava uma venda de ações, nem pensava em pedir nenhum tipo de resgate do governo.

“A recapitalização da Petrobras mostra aos investidores que o Brasil está disposto a resolver seus problemas e não à custa dos acionistas”, disse Patrik Kauffmann, que ajuda a administrar US$ 11 bilhões em ativos na Solitaire Aquila, incluindo bonds da Petrobras, em Zurique. “Como acionista você acaba diluído, dependendo de como a medida é estruturada”.

Muitos problemas fizeram a Petrobras desabar mais do que qualquer outra grande produtora de petróleo. Foram anos de metas de produção descumpridas, subsídios aos combustíveis que mataram os lucros durante o ciclo de expansão das commodities, bilhões enterrados em projetos de refino deficitários e depois ainda surgiu o maior escândalo de corrupção da história do Brasil — que fez a produtora bloquear fornecedores e substituir seus principais gestores. Além de tudo isso, a queda dos preços do petróleo para mínimas históricas está dificultando a venda de ativos da empresa com o objetivo de levantar caixa e os cortes de gastos estão limitando o ritmo de crescimento da produção.

Apenas dois dos 14 analistas que cobrem a empresa recomendam a compra de suas ações. Nomes como JPMorgan e Goldman Sachs recomendam que os investidores vendam os papéis. A Haitong Research, que iniciou a cobertura nesta semana recomendando a venda, fixa um valor justo de R$ 1,80 (US$ 0,45) para as ações preferenciais — 62 por cento abaixo dos níveis atuais. Se os preços do barril de petróleo não subirem para mais de US$ 55 até 2019, os acionistas terão mais prejuízos pela frente, disse Sergio Tamashiro, analista da Haitong que cobre a ação.

“O risco recai sobre os acionistas; essas ações, em algum momento, poderão valer zero”, disse Tamashiro em entrevista por telefone. Ele não acredita em um swap de dívidas por ações a curto prazo, mas diz que “o governo federal poderia respaldar a Petrobras”, o que seria “mais favorável para os detentores de bonds” e diluiria os acionistas.

Nem mesmo o sucesso recente da maior produtora em águas profundas do mundo ao instalar grandes navios de produção antes do programado ajudou a diminuir as preocupações dos acionistas, disse Tamashiro.

Segundo Mark Mobius, presidente do conselho do grupo de mercados emergentes da Franklin Templeton, até mesmo os detentores de bonds estão sob risco.

“Serão necessários descontos na dívida. O governo terá que entrar e ajudar e a solução do problema depende muito dos preços do petróleo”, disse Mobius a repórteres em São Paulo no dia 5 de fevereiro. “O problema das empresas do setor é que assim que os preços do petróleo caem, seus ativos também apresentam declínio. E aí os bancos dizem ‘os seus ativos valem menos, não vou te emprestar mais dinheiro ou vou te emprestar menos do que eu pensava’”.

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