Postos com voto no Fed estão desocupados

Por Conor Sen.

Nos últimos anos, o banco central dos EUA (Federal Reserve) redobrou esforços para aumentar a transparência na comunicação com o público. Foram introduzidas entrevistas coletivas com a imprensa após as reuniões quatro vezes por ano, a publicação de um resumo de projeções econômicas para os próximos anos e os chamados “dot plots”, que são as previsões para a taxa básica de juros por todos os integrantes do Comitê de Mercado Aberto (FOMC).

Contudo, há uma incerteza sobre o Fed que nenhuma comunicação resolve: sua própria composição. Dos 12 postos elegíveis para votação nas reuniões do FOMC em 2018, apenas cinco estão preenchidos atualmente. O quanto o público pode saber do pensamento da instituição se sua própria composição é quase desconhecida?

A culpa é, sobretudo, do impasse no Senado. Sete dos 12 integrantes com direito a voto no FOMC fazem parte do conselho de diretores, que são nomeados pelo presidente da República e confirmados pelo Senado. Porém, o Senado não confirmou nenhum integrante do conselho desde junho de 2014.

Outra vaga se abriu nesta semana, com a saída formal de Daniel Tarullo, que já havia anunciado a decisão. Agora, só quatro dos sete integrantes do conselho de diretores estão no cargo e o presidente Donald Trump ainda não indicou ninguém.

Os outros cinco integrantes do FOMC com direito a voto são responsáveis pelos escritórios regionais do Fed, mas em uma circunstância incomum, dois desses cinco ainda não ocupam o cargo.

Talvez mais preocupante do que essas cinco vagas abertas seja a dúvida a respeito do status da presidente do BC, Janet Yellen, e de seu vice, Stanley Fischer. O mandato de Yellen termina em fevereiro e o de Fischer em junho. É possível que os dois sejam indicados a novos mandatos no mesmo cargo ou que sejam substituídos por Trump – e então provavelmente o Senado também enfrentaria dificuldades para confirmar essas pessoas.

Os mandatos dos dois como integrantes do conselho de diretores são diferentes dos mandatos como presidente e vice-presidente da instituição e vão além de 2018. Portanto, é possível que eles permaneçam no conselho mesmo se forem nomeados outro presidente e vice. Mas se os dois saírem, o que não surpreenderia, mais duas outras vagas se abririam.

O mais preocupante nisso tudo é que o momento atual não é tranquilo para o Fed. Assim, não se pode esperar uma transição suave. Como sinalizou a ata da reunião de março, divulgada nesta semana, o Fed atualmente pondera se sobe os juros e em que velocidade e se diminui seu balanço patrimonial e em que ritmo. Essas questões ganharão ainda mais relevância em 2018.

A função de vice-diretor de supervisão no Fed, criada pela Lei Dodd-Frank, de 2010, ainda não foi preenchida. Outra incerteza é se o Partido Republicano vai mudar Dodd-Frank agora que controla o Congresso e a Casa Branca. Um Fed com menos poder tem menos capacidade para fazer seu trabalho.

O Fed precisará tomar muitas decisões nos próximos dois anos e, no momento, está perigosamente desaparelhado, com tantas vagas abertas e mandatos chegando ao fim. Até que ponto podemos confiar na comunicação do Fed se sequer sabemos quem estará votando no ano que vem?

Esta coluna não necessariamente reflete a opinião do comitê editorial da Bloomberg LP e seus proprietários.

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