Preços de commodities ganham de política para investidores no Brasil

Por Matthew Winkler, fundador e editor-chefe emérito da Bloomberg News.

Este deveria ser o ano de recuperação do Brasil. A recessão mais profunda de sua história terminou no segundo trimestre de 2017, quando os gastos do consumidor aumentaram 1,4% após nove trimestres de recuo. Durante os 12 meses subsequentes, US$1,3 bilhão foram injetados na maior economia da América Latina por meio de fundos negociados em bolsa, tornando-se um dos 10 principais países entre os investidores.

Então a entrada de dinheiro parou. Em julho, os fundos internacionais estavam deixando o País mais rápido do que em qualquer outro lugar do mundo. O maior deles, o MSCI Brazil ETF da BlackRock, sofreu as suas piores saídas desde sua criação em 2000.

Grande parte do risco de investimento é atribuído à incerteza da eleição presidencial de outubro. O principal favorito entre vários rivais com apoio fragmentado é Luiz Inácio Lula da Silva, presidente de 2003 a 2011, quando o produto interno bruto cresceu em uma média anual de 4,1% e os mercados cresceram. Mas Lula foi condenado, está preso e recentemente foi impedido pelo Tribunal Superior Eleitoral de concorrer na eleição.

Mas não há com que se preocupar. Se o passado nos dá qualquer indício sobre o que vai acontecer, os investidores podem ficar tranquilos, independentemente de quem chegar ao Palácio da Alvorada. Isso porque, ao longo de quatro mandatos desde os anos noventa, tanto a moeda quanto o Ibovespa respondem mais à subida e à queda das avaliações de commodities do que aos caprichos da política e das políticas. Com o provável aumento dos preços de minerais como a bauxita e produtos agrícolas como a soja, independentemente de quem for, estará no lugar certo na hora certa.

Até o momento, neste século, o Ibovespa e o real flutuaram com as oscilações do Bloomberg Commodity Index, que atingiu recordes em 2008 e tem seguido uma tendência de queda desde 2011, segundo dados compilados pela Bloomberg. Isso ajuda a explicar por que o governo de Lula continua sendo o que mais gerou riqueza para o Brasil: o real valorizou 113% em relação ao dólar, enquanto o mercado de ações produziu um retorno total 824% melhor do que o benchmark dos mercados emergentes, de acordo com dados compilados pela Bloomberg.

Nenhum de seus colegas chega perto desse desempenho. Seu antecessor, Fernando Henrique Cardoso, teve a sorte de pegar uma recuperação das commodities no final do Século XX (ele foi eleito em 1995) e azar devido à crise que chegou enquanto estava prestes a encerrar seu segundo mandato em dezembro de 2002. Como resultado, os investidores perderam 6,98% em ações contra o benchmark de ações, e 76,10% em reais. Nenhum candidato foi considerado tão positivamente pelos investidores quanto Fernando Henrique, que liderou as pesquisas durante os seis meses que antecederam a eleição, quando o mercado de ações ganhou 38,85% em relação ao benchmark e o real subiu 18,75%.

Dilma Rousseff, economista escolhida por Lula como sucessora, teve a infelicidade de assumir o cargo depois que os preços das commodities atingiram o pico, prejudicando sua agenda política. O mercado de ações perdeu 44,75% de seu valor em relação ao benchmark para mercados emergentes, entre sua posse em janeiro de 2011 e a saída do cargo em maio de 2016. O real desvalorizou 52,33% durante o mesmo período, segundo dados compilados pela Bloomberg.

Depois veio Michel Temer, que se beneficiou de seis meses de ganhos no mercado de ações e no câmbio, com expectativas de que o impeachment de Dilma, sob a acusação de adulterar as contas do governo, resultaria em reformas fiscais introduzidas por sua administração. Quando ele assumiu o cargo, o Ibovespa continuou se recuperando com um real relativamente estável até o início deste ano, quando ficou claro que ele era apenas um Presidente em final de mandato com um governo ainda manchado.

A correlação entre os ciclos de commodities do Brasil e os mercados bull e bear não passou despercebida por alguns dos investidores mais bem-sucedidos. A Alaska Investimentos Ltda, do bilionário Luiz Alves Paes de Barros, considera as eleições de outubro irrelevantes.

“Estamos em posição de risco total”, disse Henrique Bredda, sócio da empresa, que obteve um retorno total de 333% nos últimos três anos com seu fundo Alaska Black Master FIR BDR Nivel. O fundo superou a marca de 66 por cento do Ibovespa e mantém uma primeira colocação permanente entre seus concorrentes desde 2013, de acordo com dados compilados pela Bloomberg.

Durante os últimos oito anos, o Alaska Black Master transformou suas participações em empresas underweight (venda) de materiais básicos, de acordo com o benchmark, para empresas overweight (compra), e de ações discricionárias do consumidor no nível do benchmark para ações overweight, entre outras decisões. A estratégia do Alaska é o oposto de muitos gestores financeiros, que consideram esta eleição a menos favorável aos mercados em décadas.

“Não olhe a economia para tentar prever os retornos das ações no Brasil”, disse Bredda em uma entrevista em agosto no escritório da Bloomberg em São Paulo. “Tudo se resume às commodities. E achamos que as commodities vão subir muito”.

Quanto a quem vencerá a eleição, ele disse: “Não importa”.

Este artigo foi publicado na Folha de S. Paulo.

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