Por Filipe Serrano publicado na EXAME.
Para Tom Orlik, economista-chefe para a Ásia da agência Bloomberg, os prejuízos de uma disputa entre os EUA e a China são menores do que parecem
A recente decisão do presidente Donald Trump de impor tarifas sobre produtos chineses no valor de 50 bilhões de dólares aumentou a preocupação com os possíveis efeitos de uma guerra comercial para a economia e as empresas no mundo. Na visão de Tom Orlik, economista-chefe para a Ásia da agência de informações financeiras Bloomberg, o receio é exagerado e dificilmente uma guerra comercial traria prejuízos disseminados. Em visita recente ao Brasil, ele deu a entrevista a seguir a EXAME.
Como o senhor, que vive em Pequim, avalia a reação chinesa às ameaças comerciais dos Estados Unidos?
Há muita preocupação na China, porque os sinais de Washington são alarmantes. Ao mesmo tempo, há certa confusão. Embora a mensagem de Washington seja clara — de que o governo Trump não está satisfeito com a relação comercial —, os detalhes podem mudar de um dia para o outro. Do lado chinês, isso dificulta a negociação. Além disso, ainda que as ameaças sejam agressivas, a realidade é que o comércio internacional não foi afetado.
O que faz o senhor afirmar isso?
Os últimos resultados comerciais da China têm surpreendido. De janeiro a abril, as exportações subiram 13% em relação ao ano passado. Até as importações de produtos americanos cresceram. Houve um aumento de 11%, o que é bastante significativo.
Numa eventual guerra comercial, quais seriam os efeitos?
Se o presidente Donald Trump fizer o que prometeu na campanha eleitoral e impuser uma tarifa de 45% sobre as importações chinesas, os preços nos Estados Unidos vão subir. Com isso, o poder de compra das famílias americanas vai diminuir, e as notas de crédito dos Estados Unidos cairão. Isso teria impactos negativos na China, porque reduziria a demanda por produtos.
Qual seria o tamanho do prejuízo para a China?
Mesmo num cenário bastante pessimista, o prejuízo seria administrável. Em nossas simulações, haveria uma redução do PIB da China de 0,7 ponto percentual até 2020, algo bastante moderado. Isso porque as exportações para os Estados Unidos representam cerca de 5% do PIB chinês, e essas exportações não vão desaparecer. A China encontraria novos mercados.
Em sua opinião, como o Brasil seria afetado?
Se a China for forçada a reduzir o superávit comercial com os Estados Unidos, há um risco de que ela faça isso à custa do aumento de seu superávit com os demais países. A China compraria mais soja americana do que brasileira. Mas digamos que haja uma guerra comercial e as exportações entrem em colapso. Nossa visão é que a China não aceitará uma desaceleração grande do PIB. E o que a China faz quando quer estimular a economia? Ela constrói coisas, o que aumenta a demanda por minério de ferro brasileiro. Em certo sentido, o Brasil tem uma espécie de proteção contra o risco de uma guerra comercial.
Os Estados Unidos temem a competição da China com um avanço na área tecnológica. Isso faz sentido?
As preocupações são reais, e a questão é como resolver esse embate de uma forma consistente com o tipo de ambiente liberal que tem sustentado o sucesso econômico dos países ricos.
Existe alguma saída intermediária?
A China é boa na fabricação e os Estados Unidos são bons em serviços profissionais. Deve haver uma dinâmica em que a China exporte produtos manufaturados para os Estados Unidos e a China importe uma série de serviços profissionais dos Estados Unidos. Acho que isso ajudaria a equilibrar a relação comercial.