Por Tatiana Freitas
Os prêmios da soja no Brasil mais do que dobraram neste mês com a escalada das tensões comerciais entre os EUA e a China ampliando a demanda pela oferta sul-americana. Mas o aumento de preço ainda não foi suficiente para incentivar os produtores a aumentar o ritmo das vendas.
O desinteresse em novos negócios se deve à tabela de fretes mínimos implementada recentemente, medida que aumentou os custos do transporte rodoviário em até 150 por cento em algumas regiões, segundo estudo da CNA (Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária). Os compradores –exportadores e esmagadores de soja– descontam os custos de frete dos preços pagos aos produtores rurais.
As vendas antecipadas da safra 2018-2019 estavam 13 por cento concluídas em 15 de junho, pouco acima do mês anterior, quando estava em 10 por cento, segundo Juliano Cunha, analista da consultoria Céleres. As vendas da safra atual estão em 71 por cento ante 67 por cento no mês anterior. O plantio da próxima safra começa em setembro no Brasil, o maior exportador mundial de soja.
O “mercado está parado devido às incertezas em relação aos preços do frete”, disse Cunha, em entrevista por telefone, de Uberlândia. “Só produtores que têm transporte próprio ou condições diferenciadas para o frete têm feito vendas pontuais para aproveitar a alta dos prêmios.”
O governo federal editou no final de maio uma Medida Provisória implementando uma tabela com preços mínimos para o frete rodoviário, atendendo a uma solicitação dos caminhoneiros para terminar a greve nacional. Desde então, grupos agrícolas têm contestado a regra na Justiça em meio ao aumento dos custos, e o tema chegou ao Supremo Tribunal Federal. Incertezas sobre a possibilidade de as tarifas continuarem em vigor aumentaram a hesitação tanto dos vendedores quanto dos compradores de soja.
Enquanto isso, os prêmios pagos pela soja a ser embarcada em julho no porto de Paranaguá subiram 123 por cento neste mês, segundo dados da Commodity 3. O salto foi insuficiente para compensar o declínio dos preços de referência globais, o que também reduz o interesse dos produtores pela venda, segundo Vitor Minella, corretor de soja da Meneghetti Corretora de Cereais.
Os contratos futuros de referência da soja negociados em Chicago caíram nas últimas semanas em meio às tensões comerciais entre os EUA e a China. O país asiático é o maior consumidor mundial da oleaginosa.
“Os preços oferecidos aos agricultores estão abaixo dos níveis observados antes da greve dos caminhoneiros”, disse Minella, por telefone, de Campo Verde, em Mato Grosso. Os preços na região estão em cerca de R$ 70 por saca de 60 quilos, abaixo dos R$ 75 do mês anterior, disse.
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