Por Aline Oyamada.
Pela primeira vez em quatro anos, o Brasil paga o mesmo que o México para tomar empréstimos, ressaltando a notável recuperação do País desde o auge dos escândalos de corrupção e da recessão.
Os títulos do governo brasileiro são negociados com spread de 247 pontos base sobre os títulos do Tesouro dos EUA, queda de 83 pontos base este ano, de acordo com índices do JPMorgan. O prêmio de risco está em linha com o de 251 pontos base do México e reflete o otimismo dos investidores em relação às medidas do governo brasileiro para arrumar as contas públicas. Já a dívida do México vem sendo prejudicada pela tensão em torno do Acordo de Livre Comércio da América do Norte (Nafta) e possível vitória de um populista na eleição presidencial do 2018.
“Os investidores deram crédito ao Brasil pela recuperação do seu crescimento e pelo progresso da reforma”, disse Lucy Qiu, estrategista para mercados emergentes em Nova York do UBS, que tem posição overweight em títulos brasileiros denominados em dólares e neutra em México. “Para o México, a recente retórica difícil em relação ao Nafta e uma potencial vitória de Manuel Lopez Obrador na eleição presidencial do próximo ano pioraram o sentimento dos investidores recentemente.”
Os spreads dos títulos soberanos de Brasil e México caminharam juntos nos anos seguintes à crise financeira. A divergência começou em meados de 2013, quando o custo de captação para o Brasil aumentou devido à deterioração fiscal e à turbulência política que culminou no impeachment da presidente Dilma Rousseff em 2016.
O custo de captação do Brasil diminuiu e se aproximou do México no começo do ano, com a aprovação do teto para os gastos públicos, mas voltou a subir em maio quando o presidente Michel Temer foi envolvido em nova investigação de corrupção. O prêmio de risco voltou a recuar quando ele conseguiu que as acusações fossem descartadas.
O spread dos títulos mexicanos acompanhou os ativos de mercados emergentes neste ano, mas o movimento foi limitado por temores de que o Nafta não sobreviva, abalando as exportações mexicanas para os EUA. Os negociadores resolveram estender as conversas para 2018.
O cenário comercial se somou a preocupações com a perspectiva política no México, à medida que subiram as intenções de voto para Obrador nas eleições de julho do ano que vem. Ele sinalizou oposição a mudanças constitucionais aprovadas sob o governo do presidente Enrique Peña Nieto, especialmente o fim do monopólio da estatal Pemex sobre a produção petrolífera.
Por outro lado, não há garantia de que os problemas brasileiros tenham ficado para trás. A reforma da previdência pode não avançar, anulando boa parte dos esforços para reduzir a dívida pública. No caso do México, as conversas sobre o Nafta podem dar certo e Obrador pode recuar nas pesquisas eleitorais.
Ainda assim, o custo de seguro contra calote do Brasil – medido pelos credit default swaps ou CDS — registrou uma queda duas vezes maior que a observada para o México neste ano e melhorou até mesmo nas últimas semanas, quando o real e a Bovespa caíram devido à lentidão dos trâmites na reforma da previdência.
O otimismo dos investidores permitiu que o Tesouro Nacional vendesse títulos denominados em dólares no mês passado a uma taxa menor do que inicialmente previsto. O pano de fundo benigno para mercados emergentes também abriu caminho para emissão de novos títulos a custo menor do que o planejado inicialmente, segundo o analista Michael Arno, da Brandywine Global Investment Management, que administra US$ 74 bilhões.
“O estímulo quantitativo contínuo pelos principais bancos centrais tem limitado as taxas”, ele disse. “E os títulos ainda são bem negociados depois que a operação é concluída.”
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