Por Michael P. Regan.
Assim como quase todos os americanos, os mercados financeiros dos EUA estão obcecados com o desfecho da eleição presidencial.
É compreensível, uma vez que os mercados – que notoriamente detestam incerteza – foram obrigados a lidar com a arrancada na reta final de um candidato que é a incerteza em carne e osso.
Mas vamos presumir que a eleição se desdobra de acordo com as indicações das pesquisas de intenção de voto e que o pregão abrirá na quarta-feira após uma vitória irrefutável de Hillary Clinton.
Com o que então os mercados vão se preocupar? Sempre haverá motivos para preocupação. Neste caso, as preocupações serão as mesmas de sempre.
Começando pelos lucros das empresas. Não há tantos motivos para se perder o sono quanto no passado. Mais de 85 por cento das empresas já divulgaram os balanços do terceiro trimestre e, aparentemente, a chamada recessão dos lucros terminou. Segundo os números já apresentados pelas componentes do S&P 500, o crescimento ajustado do lucro para o índice é de 3,2 por cento e o crescimento do faturamento é de 2,2 por cento.
A perspectiva para os próximos trimestres é ainda melhor. No entanto, é preciso ter cautela com essas estimativas. A expectativa era que os lucros teriam forte crescimento em 2016, mas agora a projeção é de pouca variação.
As previsões para a expansão do PIB dos EUA em 2017 foram consideravelmente reduzidas e até implicam probabilidade de recessão pequena, mas não irrisória: 20 por cento. Também é preciso lembrar que as empresas de energia são as que puxariam o crescimento dos lucros, com alta projetada surpreendente de 337 por cento em 2017 e 45 por cento em 2018.
No entanto, é preciso que o preço do petróleo coopere e ultimamente o barril anda pressionado. Talvez a fraqueza na cotação tenha pouco a ver com a aversão a risco nas últimas duas semanas e muito a ver com temores de que a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) não conseguirá implementar os planos de reduzir a produção. O barril se estabilizou e subiu um pouco ontem, mas não no ritmo acelerado observado para os preços de outros ativos de risco.
E tem aquele velho amigo dos mercados, o Federal Reserve (banco central dos EUA).
A recente aversão a risco parece não ter abalado a probabilidade de uma elevação na taxa básica de juros pelo Fed em dezembro.
Por fim, os múltiplos dos ativos permanecem elevados, seja qual for a métrica usada.
Nada disso deve impedir o avanço das bolsas em reação de alívio se Hillary for eleita, especialmente se isso ocorrer sob as condições preferidas dos mercados: com os republicanos no controle do Congresso e limitando o espaço para ela mudar demais as regras atuais. E quem sabe esse avanço das bolsas engate em uma alta típica de Natal, que empurraria os índices acionários para novos recordes perto do fim do ano.
Há otimismo em relação às chances de o Partido Democrata emplacar um terceiro mandato na Casa Branca. Todavia, é preciso que muita coisa dê certo para que as bolsas tenham desempenho tão bom no primeiro ano de Hillary quanto tiveram durante os anos em que Barrack Obama foi presidente.
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