Presidente do BCE poderia descumprir metas antes de se aposentar

Por Simon Kennedy.

Na época em que o Banco Central Europeu voltar a aumentar sua taxa de juros, Mario Draghi pode estar prestes a se aposentar

Enquanto o chefe dos responsáveis pela política monetária da zona do euro se prepara para disparar outra salva de estímulo nesta semana, um indicador do Morgan Stanley com base no trading dos mercados financeiros indica que o BCE não elevará a referência até novembro de 2018. A data é apenas um ano antes do fim do mandato de oito anos do presidente Draghi. Alguns economistas dizem que ele nem sequer atingirá a meta de inflação antes de ir embora.

A perspectiva sinaliza que apesar da maior flexibilização quantitativa e dos custos ultrabaixos do crédito, a economia de dezenove países estará infestada por um crescimento econômico fraco e por ganhos nos preços ao consumidor consistentemente aquém da meta do BCE de pouco menos de 2 por cento. A perspectiva também prepara o cenário para vários anos de divergência com o Federal Reserve (Fed), que aumentará suas taxas no dia 16 de dezembro.

“No nosso cenário central, Draghi começaria o processo de normalização pouco antes de ir embora em busca de novos ares”, disse Ken Wattret, um dos diretores de economia de mercado do BNP Paribas SA para a Europa em Londres. “Mas parece uma coisa muito disputada e está longe de ser garantida”.

Muita fragilidade

Os economistas do Citigroup Inc. e do Morgan Stanley são alguns dos que dizem que o BCE não elevará sua referência de 0,05 por cento pelo menos antes de 2018, e os do BNP Paribas projetam uma mudança para meados de 2019. O Société Générale vai ainda mais longe – e prediz que Draghi sairá do BCE sem ajustar nunca.

Com menos de metade de seu mandato por cumprir, Draghi enfrenta uma estagnação dos preços ao consumidor e, diferentemente do Fed, uma recuperação econômica que poderia ser frágil demais para sobreviver a uma desaceleração mundial. Parece provável que quando o Conselho do BCE se reunir no dia 3 de dezembro a resposta seja criar mais medidas.

Todos os economistas consultados pela Bloomberg prenunciam que os responsáveis pela política econômica acrescentarão estímulo na quinta-feira. A maioria projeta uma combinação de medidas, como um corte na taxa de depósitos, uma extensão da duração pensada para a flexibilização quantitativa e um aumento do nível de compras mensais de bonds.

Poderia bastar para salvar Draghi da ignomínia de se tornar o primeiro presidente do BCE que não consegue cumprir seu mandado, mas isso já não é mais garantido. Dos 50 economistas consultados, onze disseram que o BCE não conseguirá atingir a meta de inflação antes que Draghi saia do cargo daqui a quatro anos, com 72 anos de idade.

Seus predecessores Jean-Claude Trichet e Wim Duisenberg conseguiram ter taxas médias de inflação de 2,1 por cento e 2 por cento respectivamente. Sob Draghi, a taxa média tem sido de 1,2 por cento por enquanto – e a maioria dos economistas antecipa que o banco central corte as projeções de inflação para 2016 e 2017 quando publicar as previsões revisadas no dia 3 de dezembro.

Ameaça à credibilidade

Um fracasso na ressurreição da inflação ameaça a credibilidade do BCE como administrador da estabilidade dos preços, um risco já mencionado pelo economista-chefe da instituição, o membro da Comissão Executiva Peter Praet. Contudo, como sempre acontece com uma meta inalcançável, existe uma opção radical – modificá-la.

Talvez o BCE acabe tendo que repensar sua meta de inflação, de acordo com Yvan Mamalet, economista do Société Générale. Entre as opções estão: reduzi-la, apresentar uma faixa mais ampla ou estabelecer um prazo para alcançá-la. Draghi já disse no mês passado que ele se empenha para que a inflação se estabilize “por volta de níveis próximos de 2 por cento”. É uma definição um pouco diferente da definição padrão de “inferior, mas próxima de 2 por cento”.

“Seria uma decisão interna enquanto o BCE tenta restaurar a credibilidade”, disse Mamalet. “Não é nosso cenário de base, mas poderia ser o legado de Draghi se as coisas saírem errado”.

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