Há uma chance de 40 por cento da presidente do Brasil ser cassada, diz Lucas de Aragão, sócio da Arko Advice, uma consultoria de risco política com sede no Brasil. A presidente Dilma Rousseff não deve prosseguir com medidas populistas que causam grandes danos econômicos, disse Aragão ao repórter Andre Soliani do Bloomberg Briefs, em entrevista por telefone no dia 20 de janeiro.
P: A presidente Dilma Rousseff será cassada?
R: Nós estimamos que tem uma chance de 40 por cento disso ocorrer. É alto, mas ainda improvável.
P: Por que é improvável?
R: A decisão da Suprema Corte em dezembro, que retirou da Câmara a palavra final sobre a possibilidade de iniciar as audiências e estabeleceu um voto adicional ao Senado, ajudou a tornar a decisão menos provável. Antes da decisão, no início de dezembro, as chances eram de 50 por cento. O Senado é mais Dilma-friendly do que a Câmara dos Deputados.
P: Será que os brasileiros irão protestar por ela?
R: Nós não vemos um padrão claro que sugere que os brasileiros vão protestar. Se os brasileiros vão às ruas, o impeachment vai ganhar força porque o Congresso reage a pressão popular. Investidores me perguntaram se o Congresso ficou assustado quando o Brasil perdeu seu grau de investimento e o dólar atingiu 4 reais. O Congresso não é composto de analistas do Goldman Sachs, que pensam que o real a 5 irá devastar o país. Mas os legisladores reagem às pessoas.
P: Com quem Rousseff ainda pode contar?
R: Com os brasileiros que têm historicamente votado para o Partido dos Trabalhadores (PT). Isso é agora cerca de 8 a 9 por cento da população. Os sindicatos não gostam dela, mas estão em uma situação que é ruim com ela, mas pior sem ela. Mas Rousseff tem o apoio incondicional dos partidos mais radicais. O PT tem uma situação semelhante à dos sindicatos. É melhor manter a Dilma no poder do que se tornar o partido que foi cassado. Dentro do Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB), ela tem o apoio do [líder do Senado] Renan Calheiros. Mas essa ponte pode cair a qualquer momento. Outro aliado importante é Eunício Oliveira, que provavelmente será o próximo presidente do Senado. Eu não tenho certeza que ela tem um apoio efusivo de Eunício, mas ele não está jogando contra ela.
P: O que os investidores devem ficar atentos?
R: Se os sindicatos deixá-la, se começarmos a ver os líderes do PMDB – Renan, o vice-presidente Michel Temer e Eunício – unificarem seu discurso, se movendo na mesma direção. Romero Jucá, é também um importante senador do PMDB para ficar atento. Ele ajudou o [ex-ministro das finanças Joaquim] Levy com algumas das poucas vitórias que ele obteve. Então, se o PMDB se unificar em torno de Temer com uma crítica mais robusta para Dilma, as chances de impeachment crescem.
P: Qual é o cronograma para um processo de impeachment?
R: A questão será votada na Câmara no início de abril. Se for aprovado, ele irá para o Senado. Eu espero que ele seja decidido em três meses quando estiver lá. Se a votação acontecesse hoje Rousseff venceria na Câmara. Mas o tempo vai funcionar a favor do impeachment. Quanto mais tempo levar o processo mais chances terá o impeachment.
P: Qual é o risco de Rousseff adotar medidas populistas para afastar impeachment?
R: Eu não vejo isso acontecendo. Dilma não é leal ao PT. Acho que é difícil para ela aceitar um rumo agressivo para a esquerda, porque se ela fizer isso, estará perdida. Ela não vai permitir que o real derreta a 6 ou 7 [o dólar] e deixar o Brasil se tornar um país leproso aos investidores apenas para salvar a imagem que o PT vende para seus militantes. Dilma escolheu [ministro das Finanças, Nelson Barbosa] aprovar um monte de coisas que Levy propunha, como a CPMF e uma tentativa de reformar a segurança social. Como Levy, ele continuará a se concentrar em entregar uma meta de superávit primário. Nelson pode aprovar coisas que Levy propôs e foram refutadas porque ele tem um melhor relacionamento com o PT. Levy era visto como um inimigo.
P: A crise política irá terminar após um processo de impeachment?
R: O fim do impeachment não resolve o maior problema de Dilma: a fragmentação de sua coalizão e falta de governabilidade. Não há motivação para apoiar a Dilma. A solução para a crise vai ter que esperar até 2018, se o PT, PMDB ou o PSDB ganhar.
P: E se Rousseff for cassada?
R: As coisas podem melhorar um pouco, mas a questão da legitimidade vai pesar, sem mencionar a operação Lava Jato, que continuará a ser uma ameaça. O potencial novo presidente Michel Temer é mais capaz e poderia unificar seu partido, o PMDB. Mas acho que é muito difícil a governabilidade voltar totalmente antes da eleição 2018.
P: O Brasil pode consertar a economia sem resolver a crise política?
R: Eu não acho que o Brasil vai superar a crise econômica de uma forma significativa em 2016 ou 2017. Não vai conseguir aprovar as medidas necessárias. Vai ser difícil passar a CPMF, chegar a acordo sobre uma reforma do sistema de segurança social. Se a resolução da crise econômica depender da política, isso não vai acontecer nos próximos anos.