Por Josue Leonel e Patricia Lara
A convicção dos analistas do mercado de que a taxa básica de juros continuará estável mesmo com o câmbio sob pressão está longe de ser incondicional. Essa avaliação depende do percentual de repasse do câmbio para a inflação, do nível que o dólar ainda poderá atingir e também da natureza dessa alta – se mais por problemas domésticos ou externos com enfraquecimento de outras moedas emergentes.
A valorização do dólar tem sido sufocada pelas pesadas atuações do Banco Central com swaps cambiais, iniciadas após a moeda atingir R$ 3,90 na semana passada. Embora o BC, em todas as suas comunicações, reforce que não há uma “relação mecânica” entre o câmbio e os juros, as taxas futuras dispararam no mesmo período. Os contratos de DI chegaram a embutir aprojeção de altas de entre 30 e 50 pontos base do juro a cada uma das próximas oito reuniões do Copom.
A relação entre o dólar e a taxa de juros existe pelo chamado carry trade, o ganho de quem aposta na moeda brasileira, tendo os juros domésticos como retorno. Com a Selic no piso histórico de 6,5%, esse retorno caiu e, para alguns participantes do mercado, não estaria adequado para fazer frente ao nível de riscos – tanto externos, com a elevação de juros pelo Fed, quanto internos, com a piora do quadro político e fiscal em razão da greve dos caminhoneiros.
O BC não tem necessariamente que subir o juro para acalmar o câmbio, mas se subisse poderia ajudar, diz Alberto Ramos, economista sênior do Goldman Sachs, em entrevista por telefone. “O carry do real está muito baixo e o Fed vai continuar subindo juro. Adicionar carry poderia ajudar um pouco.”
Ramos observa que a situação fiscal do país está “muito debilitada” e que, embora a inflação esteja sob controle, as expectativas de alta dos preços “estão andando”. Se esta tendência se prolongar, o BC poderá ter de agir com a política monetária. A atividade econômica fraca torne uma alta dos juros indesejada, mas uma elevação pequena da Selic ainda manteria os juros em nível estimulativo.
Newton Rosa, economista-chefe da Sul America Investimentos, considera mais provável que o BC não eleve o juro no Copom da próxima semana. A continuidade da Selic estável, porém, depende de até quanto o quadro de instabilidade no câmbio vai continuar e afetar as expectativas. Advertindo se tratar de “mais um exercício do que certeza”, Rosa projeta que a inflação ainda se manteria dentro da meta com dólar até R$ 4,00, admitindo um repasse de 5% a 7% para os preços. Um câmbio muito acima de R$ 4,00, portanto, poderia obrigar o BC a agir para segurar a inflação.
A forte pressão sobre os juros futuros nas últimas semanas pode refletir, além das incertezas externas, fiscais e políticas, o fato de o BC ter surpreendido o mercado e mantido a Selic devido ao fator externo, que se transmite à economia doméstica via dólar, diz Rosa. “O último Copom ligou a política monetária com o câmbio.”
Já para o ex-diretor do Banco Central Alexandre Schwartsman, o elevado hiato do produto, diante de um desemprego dessazonalizado de 12,5%, é um dos fatores que reduzem o impacto inflacionário da alta do dólar e tornam desnecessária uma alta dos juros este ano. Uma piora da questão fiscal que desancore as expectativas pode mudar essa dinâmica, mas essa é uma discussão para a segunda metade do ano.
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