Prever o fim da depressão cambial na América Latina vira caminhada inútil

Por Katia Porzecanski.

O mercado cambial, de US$ 5,3 trilhões, está perdendo a confiança na capacidade dos líderes da América Latina de recuperarem a enfraquecida economia da região.

O real brasileiro é a moeda com o pior rendimento neste ano, tendo afundado 20 por cento. O peso mexicano está em um valor mínimo recorde. O bolívar venezuelano vendido no mercado negro se desvalorizou tanto que um salário mínimo mensal agora compra apenas pouco mais de US$ 11.

Pode ser que o pior ainda esteja chegando. Já afetada por uma depressão nas commodities que desacelerou o crescimento até beirar a paralisação, a região agora está sendo chocada por escândalos de corrupção nas duas maiores economias: a do Brasil e a do México. Estrategistas do Morgan Stanley disseram em um relatório publicado em 15 de julho que não podiam achar uma única moeda latino-americana para recomendar.

“É difícil dizer algo positivo”, disse Win Thin, o diretor mundial de estratégia para mercados emergentes da Brown Brothers Harriman Co. em Nova York, em entrevista por telefone. Os países que tiveram um boom com o crescimento vertiginoso nos preços das commodities “agora estão observando o outro lado”.

Antecipa-se que a América Latina cresça apenas 0,1 por cento neste ano, menos do que qualquer outra região no mundo, segundo economistas consultados pela Bloomberg. Até mesmo a Europa Oriental, que enfrenta uma recessão na Ucrânia devastada pela guerra e na sancionada Rússia, se expandirá 0,3 por cento.

Trata-se de uma mudança e tanto em relação há cinco anos, quando o crescimento médio das economias latino-americanas era de 6,6 por cento, mais do que o dobro da taxa das economias desenvolvidas.

O trading de futuros mostra que as principais moedas da região atingirão seu menor valor em vários anos – se não um recorde. A Argentina e a Venezuela, que imprimiram dinheiro em vez de baixarem gastos como consequência da queda das commodities e agora ostentam as taxas de inflação mais altas do mundo, se encaminham para grandes desvalorizações, mostram as previsões de economistas.

Corrupção

Acusações de corrupção mancharam as administrações de vários líderes, do presidente mexicano, Enrique Peña Nieto, até a presidente chilena, Michelle Bachelet, mas nenhum país enfrenta uma crise de confiança pior do que o Brasil. O índice de aprovação da presidente Dilma Rousseff caiu para cerca de 15 por cento.

Dilma está tendo dificuldades para desacelerar uma inflação acima da meta em meio aos crescentes boatos de impeachment. Uma investigação integral envolveu seu antecessor e os líderes de ambas as câmaras do congresso, minando o apoio político de que Dilma precisa para impulsionar medidas fiscais a fim de estabilizar a economia. Na quarta-feira, o governo pediu aos legisladores que aprovassem uma redução do seu superávit orçamentário primário para 2015, gerando preocupação com que o país perca seu status de grau de investimento.

Quem procurar um ponto positivo deveria considerar os bonds do Brasil denominados em reais com vencimentos mais distantes, os quais poderiam se beneficiar com os ajustes das taxas de juros feitos pelo Banco Central quando a inflação for controlada, disse Jorge Mariscal, diretor de investimentos da UBS Wealth Management para mercados emergentes.

‘Importantes ventos contrários’

O petróleo, que se desvalorizou 50 por cento nos últimos doze meses, é a maior fonte de receita exportadora para a Venezuela, a Colômbia e o Equador. No Chile, o cobre, que responde por metade das exportações do país, mergulhou para seu nível mais baixo desde 2009 em meio à decrescente demanda da China.

Os preços da soja e do minério de ferro também declinaram nas últimas semanas, e uma medição dos preços de commodities feita pela Bloomberg recuou para seu menor valor em mais de 13 anos na quinta-feira.

“O choque nas condições comerciais está reduzindo parte do impulso ao crescimento para os países bem administrados na região e ao mesmo tempo está exacerbando a administração ruim da política econômica em outros lugares”, disse Pablo Goldberg, que ajuda a administrar US$ 9,5 bilhões em dívidas de mercados emergentes da BlackRock Inc., em entrevista por telefone de Nova York. “A América Latina está enfrentando ventos contrários”.

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