Por Luke Kawa.
Como investir em um ano que, já se sabe, será marcado pela chegada de Donald Trump à Casa Branca, pelos esforços da China para manter o crescimento econômico acelerado e sustentável e pela continuidade da marcha do populismo pela Europa?
O Goldman Sachs Group tem algumas ideias. A equipe liderada pelo corresponsável por macroeconomia e mercados globais Francesco Garzarelli divulgou a primeira leva de recomendações para 2017 em relatório enviado a clientes.
São seis ideias de investimento. Algumas são apenas extensão de apostas de alta convicção que o banco já apresentou. Outras são ideias novas.
Mas é preciso alertar que, historicamente, as recomendações do Goldman para o ano seguinte não têm taxa de sucesso notável. Em meio ao tumulto nos mercados que caracterizou o início de 2016, o banco precisou reverter cinco de suas seis recomendações principais por causa dos mecanismos para impedir perdas maiores. E isso tudo aconteceu até meados de fevereiro.
1. O dólar é quem ganha com o populismo nos mercados desenvolvidos
O raciocínio se baseia na onda populista que está varrendo o planeta. “Nos EUA, os eventos avançaram em direção positiva para o dólar — maior probabilidade de estímulo fiscal, mais protecionismo e controle de imigração —, tudo isso leva a uma combinação mais inflacionária e configuração de mais aperto na política monetária”, escreveu a equipe. “Na Europa, a incerteza em relação ao processo do Brexit deve pesar sobre a libra esterlina, enquanto diversas eleições — incluindo as consequências políticas após o referendo constitucional na Itália, em 4 de dezembro, e eleições gerais na França, Alemanha e Holanda vão pesar sobre o euro.”
O alvo dos estrategistas é um ganho de 10 por cento no dólar em relação a uma cesta de mesma ponderação contendo euros e libras. Eles sairiam da posição com um revés de 5 por cento. Os principais riscos a esta aposta são a retirada gradual de estímulos pelo Banco Central Europeu e um atraso na entrada em vigor do Artigo 50, que iniciaria a saída do Reino Unido da União Europeia.
2. Trump ficará mais irritado com a moeda chinesa
O Goldman espera continuidade em 2017 da política de Pequim de administrar a depreciação da moeda local em relação ao dólar.
“O dilema fundamental do regime cambial da China é que, em um ambiente de alta do dólar, manter a estabilidade da cesta de moedas do sistema CFETS exige alta significativa da taxa dólar/yuan, o que implica risco de retomada acelerada das saídas de capital”, segundo o relatório. “Em nosso cenário básico, a taxa dólar/yuan continuará subindo, puxada por pressões domésticas e no contexto de dólar mais forte.”
3. Mantenha a calma com as moedas emergentes certas
Os estrategistas recomendam posição comprada em uma cesta de igual ponderação que contenha reais, rublos, rúpias indianas e rands sul-africanos contra o won sul-coreano e o dólar de Cingapura, que são duas moedas frequentemente usadas como referência para uma exposição vendida à China.
Diante do resultado surpreendente da eleição presidencial nos EUA, algumas dessas moedas que oferecem rendimento relativamente maior apanharam indiscriminadamente na surra generalizada nos ativos de mercados emergentes. Assim, é boa hora para iniciar posições compradas.
4. Posição comprada em ações de mercados emergentes com “exposição isolada ao crescimento”
“Olhando para o espectro de ações de mercados emergentes, concluímos que Brasil, Polônia e Índia oferecem ‘exposição isolada’ ao tema de recuperação do crescimento dos mercados emergentes, sem estarem particularmente expostos ao crescimento da China ou à política comercial dos EUA”, escreveu a equipe.
O Goldman recomenda compra de uma cesta de mesma ponderação e sem hedge de câmbio que contenha os índices de retorno total da bolsa de Varsóvia, o Ibovespa e o NSE Nifty 50. O objetivo é um ganho de 20 por cento e saída da posição se houver queda de 10 por cento a partir dos níveis atuais.
5. A aposta na retomada da inflação tem fôlego
Os estrategistas voltaram a recomendar posição comprada na inflação implícita nos EUA em 10 anos (derivada da diferença entre os rendimentos nominais e protegidos da inflação dos títulos do Tesouro americano). A equipe espera que essa diferença se amplie para 230 pontos-base e sairia da posição se o spread encolhesse para 160 pontos-base.
Desta vez, os estrategistas também recomendam uma versão da mesma operação para a inflação na Europa, por meio de swaps.
6. Posição comprada em crescimento dos dividendos na Europa
A última recomendação do Goldman para o ano que vem: posição comprada e com hedge cambial em crescimento dos dividendos na Europa por meio dos futuros de dividendos para 2018 do Euro Stoxx 50.
“Os swaps de dividendos, que são instrumento híbrido de crédito e ações, atualmente nos parecem atraentes em um contexto de ativos cruzados”, escreveu Garzarelli. “Prevemos ’carregamento’ alto na comparação com outros ativos, que refletem riscos fundamentais e desequilíbrios de oferta/demanda na emissão de produtos estruturados.”
“Dividendos de prazo mais curto são menos influenciados por variações nos múltiplos das ações e mais vinculados a lucros e fluxos de caixa subjacentes”, explicaram os estrategistas. “A despeito do pequeno crescimento dos lucros em 2016, os dividendos para 2017 do EURO STOXX 50 entregaram retorno de 6 por cento com volatilidade acumulada no ano de 7 por cento.”
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