Por Raymond Colitt, Arnaldo Galvão e Carla Simões.
A prisão do líder do governo no Senado aumenta a pressão sobre a presidente Dilma Rousseff e poderá prejudicar as votações importantes da sua agenda econômica justamente no momento em que ela parecia recuperar apoio no Congresso.
Na quarta-feira, a polícia prendeu o líder do governo no Senado, Delcídio Amaral, e o bilionário banqueiro André Esteves por supostamente tentarem interferir nas investigações do esquema de corrupção da Petrobras. Na terça-feira, a polícia prendeu José Carlos Bumlai, amigo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, porque ele teria intermediado contratos fraudulentos do governo.
A série mais recente de prisões representa um revés para as tentativas de Dilma de aprovar medidas de recuperação econômica no Congresso e combater o impeachment, disse o analista político André César, de Brasília.
“A agenda econômica voltou ao segundo plano. Esse é um grande revés para o governo, justamente quando recomeçava a respirar”, disse César. “A ameaça de impeachment ainda está no ar”.
Medidas de austeridade
Delcídio Amaral se reunia e conversava frequentemente com Lula. Como presidente da Comissão de Assuntos Econômicos, ele estava envolvido na negociação das propostas orçamentárias no Congresso.
“A prisão de Delcídio complica a aprovação das medidas de austeridade no Congresso”, disse o senador Paulo Bauer, do PSDB, um dos partidos que respaldaram os pedidos de impeachment contra Dilma.
O Partido dos Trabalhadores divulgou nota afirmando que não vê necessidade de “nenhum gesto de solidariedade” porque as supostas ações de Delcídio Amaral não têm relação com suas atividades no partido.
O Senado se reuniu na noite de quarta-feira, 25 de novembro, para discutir a prisão de Amaral. Segundo a Constituição, os senadores podem revogar a decisão do Supremo Tribunal Federal.
Os advogados de Esteves, estão buscando informações sobre a prisão, disse Sandra Pires, sócia do escritório Rao & Pires Advogados, que faz parte da equipe que está defendendo o banqueiro. Os advogados de Bumlai informaram que ele estava “sereno e calmo” e que não tinha comentários sobre as medidas a serem tomadas em nome dele.
Após as prisões, o Congresso adiou, na quarta-feira, uma sessão conjunta que poderia votar a mudança da meta fiscal de 2015. “Não existe ambiente no Congresso para se reunir”, disse José Mendonça Filho, líder do DEM, partido de oposição, na Câmara dos Deputados.
O ministro da Fazenda, Joaquim Levy, teme que os novos atrasos para aprovação do projeto de lei forcem o governo a adotar mais cortes de gastos, segundo fonte com conhecimento direto do assunto que pediu anonimato porque a discussão é privada.
O impulso dos partidos de oposição para iniciar o processo de impeachment de Dilma na Câmara perdeu força nas últimas semanas. O foco mudou para uma possível investigação contra Eduardo Cunha, presidente da Câmara e membro do PMDB, partido da base aliada do governo. O Comitê de Ética está avaliando se deve investigar as acusações de que ele aceitou propinas no escândalo de corrupção da Petrobras.
Dilma, Lula e Cunha negaram qualquer irregularidade.
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As últimas prisões provavelmente colocarão o PT, fundado por Lula, novamente sob os holofotes. “Essa é mais uma prisão que acerta o partido do governo em cheio”, disse Randolfe Rodrigues, líder do Rede, outra legenda de oposição, no Senado.
O incidente envolvendo Amaral não é bom para ninguém, mas não vai paralisar o Congresso, disse Henrique Fontana, vice-líder do PT na Câmara. “A prisão não tem nada a ver com o governo”, disse ele. “É um assunto pessoal”.
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