Produtoras de café instantâneo do Brasil evitam novos contratos

Por Fabiana Batista.

A seca no Brasil foi tão grande que as fabricantes de café instantâneo do país, que são as maiores fornecedoras do mundo, já não estão fechando novos contratos de exportação devido à escassez de café robusta.

Os produtores deixaram de celebrar compromissos de venda desde o fim de setembro devido à dificuldade de repor os estoques de grãos, segundo a Abics, associação que representa o setor de café solúvel do país. O Brasil é o maior fabricante e exportador de café instantâneo do mundo.

“As indústrias só podem vender aos clientes se têm certeza de que poderão entregar o produto”, disse Aguinaldo José de Lima, diretor de relações institucionais da Abics, por telefone, de São Paulo. “Então, isso significa que elas estão perdendo clientes.”

Os preços do café subiram neste ano porque o clima seco no Brasil reduziu sua safra de robusta ao menor patamar em mais de uma década. Os problemas na América do Sul foram sucedidos de estiagens em países asiáticos como o Vietnã, maior produtor dessa variedade de café. Com a dificuldade para encontrar a variedade robusta, mais empresas de torrefação estão usando grãos de café arábica, o tipo mais suave (o preferido do Starbucks, por exemplo), o que está reduzindo a oferta e elevando os preços também dessa variedade.

‘Sendo asfixiados’

A “indústria do café solúvel não consegue substituir o robusta pelo arábica, como as torrefadoras fazem”, disse Lima. “Estamos sendo asfixiados.”

A escassez de café robusta ameaça a competitividade do Brasil no setor de café instantâneo e pode afetar as exportações do ano que vem, disse Lima. Uma norma do governo que impede a importação de café verde aumenta a dificuldade dos produtores.

“Nossos concorrentes no setor de café solúvel, como a Colômbia e o México, não têm problema para comprar robusta do Vietnã”, disse Pedro Guimarães, diretor comercial da Cia. Cacique de Café Solúvel, produtora de café instantâneo e outras bebidas com sede em São Paulo. Os produtores de outros países conseguem comprar grãos cerca de 30 por cento mais baratos do que o valor da commodity negociado no Brasil, disse ele por telefone.

Os preços dos grãos robusta no Brasil subiram cerca de 44 por cento neste ano, chegando a altas históricas. A safra do país atingirá 9,4 milhões de toneladas, o menor patamar em 11 anos, estima a Conab, a agência de abastecimento do governo. Os contratos futuros de referência do robusta negociados em Londres subiram em oito dos últimos nove meses.

Produtores relutantes

No interior do Brasil, os produtores relutam em vender café. Os níveis de seus estoques estão tão baixos que eles temem não ganhar dinheiro suficiente para chegar ao início da próxima safra, em maio, disse Edimilson Calegari, gerente-geral da cooperativa de produtores Cooabriel, por telefone, de São Gabriel da Palha, no Estado do Espírito Santo.

Na produtora de café instantâneo Cia. Cacique, Guimarães estima que a companhia tem estoque suficiente para cumprir os contratos já assinados válidos até dezembro. A produtora não está fechando nenhum novo contrato para vendas a partir de janeiro, disse ele.

“Mesmo concordando em pagar preços caros, o setor não consegue adquirir um volume razoável de grãos”, disse Guimarães. “Provavelmente ampliaremos as férias obrigatórias dos funcionários, que normalmente ocorrem nos últimos 10 dias de dezembro, até 20 de janeiro.”

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