Por Tatiana Freitas.
Estoques de milho a céu aberto. Essa é a consequência de uma enorme safra no maior Estado produtor do país, Mato Grosso.
“Hoje vemos o cenário de milho a céu aberto por causa da falta de espaço nos armazéns”, disse Endrigo Dalcin, presidente da associação dos produtores de soja (Aprosoja) em Mato Grosso, em entrevista por telefone.
O Brasil se tornou um dos produtores agrícolas mais importantes do mundo, mas problemas de infraestrutura ainda atrapalham a sua competitividade. Trechos não pavimentados da BR-163 no Pará – que se transformaram em atoleiros no início deste ano – atrapalharam o transporte de grãos, enquanto problemas de armazenamento estão acontecendo com mais freqüência depois que os agricultores expandiram rapidamente a produção na última década. Em Mato Grosso, a capacidade de armazenamento é apenas metade do recomendado como margem segura pela organização de alimentos e agricultura das Nações Unidas, de acordo com Aprosoja.
Armazenar o milho ao ar livre significa que o grão fica vulnerável à umidade, o que pode provocar o seu apodrecimento. Também torna a produção mais suscetível a roedores e outras pragas. Nessa época do ano, o tempo seco minimiza o risco de danos. Mas as chuvas provavelmente retornarão em dezembro, o que aumentará as preocupações com as condições de armazenamento do produto.
Soja excedente
Os agricultores de Mato Grosso estão colhendo 29,5 milhões de toneladas de milho nesta safra, um crescimento de 55% em relação à anterior, segundo o Imea (Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária). A capacidade de armazenamento local é estimada em 33,5 milhões de toneladas, segundo estimativa da Aprosoja baseada em dados da Conab. A falta de espaço não seria um problema se os produtores ainda não tivessem soja armazenada da colheita, também recorde, que terminou no final de abril.
As pilhas de milho a céu aberto são mais comuns na região conhecida como Médio-Norte de Mato Grosso, incluindo os municípios Sorriso, Sinop e Campo Novo do Parecis, onde a produção do cereal e o déficit de armazenamento são maiores, disse Dalcin. A colheita de milho no Estado estava 95,5% finalizada no dia 4 de agosto, segundo o Imea.
Bloqueios em importantes rodovias do Estado, promovidos por caminhoneiros contra o recente aumento de impostos sobre os combustíveis, podem agravar o problema de armazenamento, já que as interrupções no tráfego acabam atrasando o escoamento do milho para outros Estados e portos, segundo Dalcin.
“Precisamos escoar mais de 5 milhões de toneladas de milho por mês até dezembro para não atrapalhar a colheita da soja no próximo ano”, afirmou. A colheita da oleaginosa no Estado começa em janeiro.
O problema de armazenamento no Estado só não é mais grave porque muitos produtores compraram silo para armazenar a produção, disse Dalcin. Isso lhes permite armazenar grãos fora dos armazéns com mais proteção contra a umidade e animais, ajudando a aliviar as preocupações com a qualidade da produção.
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