Programa do BCE estimula até títulos junk na Europa

Por Henrique Almeida.

Até mesmo empresas sem classificação de crédito do país que tem o mercado de títulos de pior desempenho da Europa estão buscando reduzir os custos de seus empréstimos.

Algumas empresas tomadoras de empréstimos de Portugal estão procurando tirar vantagem da demanda de alguns investidores por ativos de maior risco e de retorno mais elevado por meio do refinanciamento de dívidas a uma taxa de juros mais baixa ou com mais tempo para pagar. Elas não se qualificam para o programa de aquisição de títulos do Banco Central Europeu, mas são uma nova evidência de que os bilhões de euros injetados no sistema a cada mês estão chegando a todos os cantos do mercado.

“Há uma demanda crescente por títulos corporativos sem classificação ou de grau especulativo em Portugal, precisamente porque esses papéis normalmente oferecem retornos maiores do que os títulos que se qualificam para o programa do BCE”, disse António Fonseca, trader da Probolsa em Lisboa, que compra e vende títulos corporativos portugueses sem grau de investimento. “Definitivamente existe apetite por esses títulos”.

Na endividada periferia da zona do euro, e pouco mais de dois anos depois de deixar seu programa internacional de resgate, Portugal é um termômetro que mostra até que ponto os títulos poderiam chegar neste ano. O país continua sendo o mercado de títulos soberanos de pior desempenho da Europa no ano, embora tenha começado a virar o jogo nos últimos 30 dias com um rali que está eliminando os prejuízos.

Taxa pela metade

A Semapa-Sociedade de Investimento e Gestão, controladora da fabricante de papel e celulose The Navigator Company, sem classificação de crédito, vendeu 100 milhões de euros (US$ 112 milhões) em títulos em uma colocação privada, em 2 de junho, como parte de um plano de refinanciamento de sua dívida. Os títulos de sete anos foram precificados com yield de 2,68 por cento. Em março de 2012, a empresa pagou 6,85 por cento para tomar um empréstimo de três anos de 300 milhões de euros.

Empresas com balanços sólidos podem tirar proveito do programa de aquisição de títulos do BCE independentemente de sua classificação, disse o diretor financeiro da Semapa, José Miguel Paredes, nesta semana, por email, em resposta a perguntas.

A Mota-Engil, maior construtora de Portugal, está tentando obter crédito mais barato tirando vantagem do apetite pelo risco, segundo um porta-voz. A empresa, que também não possui classificação, precificou títulos de cinco anos com yield de 5,5 por cento em 2014. No ano passado, conseguiu 3,9 por cento por títulos de vencimento similar, mostram dados compilados pela Bloomberg.

A Retailer Sonae também disse que busca reduzir o custo de sua dívida e aumentar o vencimento médio.

O multibilionário programa de aquisição de títulos corporativos do presidente do BCE, Mario Draghi, iniciado em 8 de junho, faz parte do esforço do banco central para estimular a inflação e reduzir os custos de financiamento em toda a zona do euro.

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