Por Sam Chambers com a colaboração de Lisa Du e Jennifer Kaplan.
A proposta da Administração de Alimentos e Medicamentos dos EUA (FDA, na sigla em inglês) de retirar as propriedades aditivas dos cigarros abriu uma nova frente na campanha internacional pela redução do tabagismo, e autoridades da saúde de pelo menos outros quatro países estão estudando a ideia.
Depois que o comissário da FDA, Scott Gottlieb, sugeriu a exigência de cortes drásticos nos níveis de nicotina, especialistas em saúde pública da Nova Zelândia publicaram na semana passada um plano de ação recomendando a aplicação dessas reduções no país dentro de cinco anos. O Canadá e a Finlândia afirmam que avaliam regular a quantidade da droga presente nos produtos de tabaco, e autoridades do Departamento de Saúde do Reino Unido discutiram a proposta dos EUA com representantes da FDA, segundo uma pessoa familiarizada com o assunto.
A FDA “chamou fortemente a atenção dos órgãos reguladores de todo o mundo para os cigarros com nicotina reduzida”, disse Clive Bates, consultor de saúde pública, por telefone. A medida gera um “tremendo impulso” ao conceito de limitação da nicotina apesar das falhas da política, entre elas a probabilidade de criar um mercado negro para cigarros comuns, disse ele.
A postura proativa da FDA poderia estimular autoridades de fora dos EUA a intensificar a guerra contra a nicotina, minando as perspectivas das empresas de tabaco em países em desenvolvimento nos quais elas têm buscado crescer para compensar a queda dos índices de tabagismo no mundo rico. A história mostra que os esforços governamentais para limitar o tabagismo, como proibir propagandas e impor restrições às embalagens, podem se disseminar rapidamente pelo globo.
A sugestão de Gottlieb eliminou cerca de US$ 36 bilhões em valor das empresas de tabaco em um único dia. Em um primeiro momento, foram atingidas mais duramente as empresas com maior exposição aos EUA, como a British American Tobacco, proprietária da marca Lucky Strike, e a Altria Group, empresa controladora da Marlboro. O momento do anúncio da FDA pode ser particularmente doloroso para a BAT, que estaria promovendo uma venda de títulos de dívida na Europa após anunciar na terça-feira uma das maiores vendas de títulos de 2017 nos EUA para refinanciar a compra da Reynolds American por US$ 49,4 bilhões. As ações da BAT chegaram a cair 1,2 por cento em Londres na quarta-feira.
Empresas como Japan Tobacco e Imperial Brands também caíram quando os investidores se depararam com a perspectiva de uma campanha global para limitar a nicotina. O setor levou Austrália e Reino Unido à Justiça devido a regulações nos últimos anos e, apesar de afirmarem que o limite à nicotina pode impulsionar as vendas de alternativas menos nocivas, as fabricantes de cigarros deverão contestar as propostas da FDA.
O diretor de política de produtos da Philip Morris International, Rolf Lutz, estimou no ano passado que extrair a nicotina de todos os cigarros vendidos na União Europeia custaria à empresa entre US$ 10 bilhões e US$ 12 bilhões. Lutz disse que o custo poderia ser minimizado pela modificação genética das plantas do tabaco, mas que isso levaria cerca de 20 anos.
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