Quadro político reverte otimismo em relação a títulos brasileiros no exterior

Por Aline Oyamada.

Os títulos brasileiros estão perdendo o brilho após registrarem um dos maiores ganhos entre os papéis emitidos por nações em desenvolvimento.

Steve Drew, responsável por crédito de mercados emergentes na Janus Henderson, que supervisiona US$ 331 bilhões, reduziu a alocação em ativos brasileiros há seis semanas. A Oppenheimer Holdings também diminuiu a exposição. O Andbank recomenda apenas a compra dos títulos mais líquidos do país — que seriam fáceis de vender em um momento de perdas.

Segundo investidores, os preços dos títulos parecem inflados após ganhos de 40 por cento nos títulos corporativos denominados em dólar e de 30 por cento nos papéis soberanos desde o começo do ano passado, quando o impeachment de Dilma Rousseff alimentou apostas na retomada da economia. Agora, seu substituto Michel Temer enfrenta acusações de corrupção que podem acabar com sua carreira política e ameaçam seus esforços para estimular o crescimento e sanar as contas públicas.

“O mercado não tem muita folga para absorver notícias negativas com esses níveis de spread”, disse Drew, que aconselha gestores de carteira sobre créditos de países emergentes.

A Janus Henderson, firma resultante da fusão da Janus Capital Group e da Henderson Group neste ano, está focando suas aplicações no Brasil em companhias consideradas subvalorizadas, como Marfrig Global Foods e Votorantim Metais.

O dinheiro que a Janus Henderson retira no Brasil está sendo direcionado para dívidas emitidas pela Turquia e algumas províncias da Argentina, além de bônus de duração mais longa do Catar, de acordo com Drew.

Para Claudia Castro, analista sênior da Oppenheimer, que administra US$ 240 bilhões, os gestores de recursos vêm reduzindo os ativos no Brasil desde maio, quando acusações contra Temer surgiram a partir de acordos de delação premiada. A firma agora tem alocação menor em títulos locais e internacionais do País.

No mês passado, Temer foi denunciado por crime de corrupção passiva, acusado de receber propina da JBS. A Câmara de Deputados vai decidir se ele será julgado pelo Supremo Tribunal Federal.

“Os múltiplos estão esticados e a incerteza política é maior, por isso realizamos lucros”, disse Castro. “Não temos muita visibilidade em termos das reformas.”

Investidores estão monitorando de perto a perspectiva para aprovação das medidas defendidas por Temer para cortar benefícios previdenciários a fim de melhorar a situação fiscal. Embora o Senado tenha aprovado a reforma trabalhista na semana passada, a reforma da previdência ainda não foi votada.

Diante do cenário político nebuloso, o Andbank, banco de investimento privado sediado em Andorra, recomenda que os investidores mantenham em carteira apenas os títulos mais fáceis de vender em uma situação de piora súbita. Carlos Gribel, responsável por renda fixa na corretora do banco em Miami, considera atraentes os papéis da Petrobras.

“Você precisa apertar o gatilho rapidamente se necessário”, ele disse.

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