Queda do cacau gera temor de que agricultores voltem à coca

Por Marvin G. Perez.

A pior queda de preço do cacau em 17 anos está gerando o temor de que os agricultores da América do Sul deixem de cultivar a matéria-prima usada no chocolate e optem por culturas alternativas, como a coca, afirmam associações do setor.

Os grãos negociados na ICE Futures U.S., em Nova York, despencaram nos últimos cinco meses, na sequência de queda mais longa registrada desde maio de 1999. O cacau está sendo negociado perto do nível mais baixo desde março de 2013, derrubado pela expectativa de excedente global.

No Equador, o terceiro maior exportador mundial, o setor está “bastante preocupado” de que o preço atual desencoraje os agricultores, levando-os a buscar retornos melhores com a banana, o milho, o arroz ou o camarão, disse Juan Pablo Zúñiga, presidente da Associação Nacional dos Exportadores de Cacau do Equador.

O cacau para entrega em março chegou a cair 1,5 por cento na sexta-feira em Nova York, para US$ 2.052 a tonelada.

Os preços atuais mal cobrem os custos de produção, que variam de US$ 1.800 a US$ 1.900 por tonelada, disse ele, em entrevista por telefone, de Guaiaquil. Os rendimentos são normalmente de menos de 500 quilos por hectare em propriedades pequenas e antigas, que respondem por cerca de 40 por cento da área plantada do país. A quantidade é muito menor que as duas toneladas por hectare que as fazendas com novas variedades de maior rendimento são capazes de produzir.

Peru gera temor

O clima desfavorável causado pelo fenômeno climático El Niño no Equador reduziu as ofertas em 18 por cento na safra 2015-2016, para 248.000 toneladas. A produção deverá se recuperar neste ano, chegando a 280.000 toneladas e consolidando o Equador como terceiro maior exportador do grão, atrás da Costa do Marfim e de Gana.

No Peru, onde a alta de quatro anos do cacau até 2015 incentivou antigos produtores de coca a abandonarem o cultivo da matéria-prima usada na fabricação da cocaína, é maior o temor de que os retornos mais baixos os levem a retornar a alternativas ilegais, disse Eduardo Montauban, gerente-geral da Câmara Peruana do Café e do Cacau.

O presidente do Peru, Pedro Pablo Kuczynski, deseja promover uma maior produção de cacau e café para deter as plantações ilícitas, mas os preços atuais podem tornar esse objetivo mais difícil de atingir.

“Se os preços caírem mais, isso poderá reduzir a produção do ano que vem”, disse Montauban, por telefone, de Lima. “O café e o cacau são as principais alternativas ao desenvolvimento da produção de coca.”

A produção de cacau do Peru se expandiu em cerca de 59 por cento nos últimos cinco anos, para 55.800 toneladas em 2015, porque os preços mais altos atraíram mais agricultores, disse Montauban, citando dados do governo. Os agricultores foram encorajados pelos altos preços pelos quais vendiam seus grãos, a uma média de US$ 3.096 a tonelada em 2016 e de US$ 3.200 em 2015. Os contratos futuros estão, em média, em US$ 2.173 por tonelada neste ano em Nova York.

O Citigroup e o Rabobank International estimam um excedente global na safra que começou em 1o de outubro. Os exportadores equatorianos estão otimistas de que os contratos futuros subirão para US$ 2.500 a US$ 2.700 no segundo semestre do ano com a recuperação da demanda global liderada pela Ásia.

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