Por Srinivasan Sivabalan
A história das bolsas de mercados emergentes tem poucos anos que começaram com prospectos tão animadores quanto 2018… e ainda menos primeiros semestres que terminaram com tanta decepção.
Os investidores dessa classe de ativos estão US$ 2,2 trilhões mais pobres do que estavam há seis meses. O índice de referência desabou e se aproxima de um território alarmante. Os fundos negociados em bolsa (exchange-traded funds ou ETFs) que acompanham as ações de países em desenvolvimento registram o maior volume de resgates em quatro anos e meio. Especuladores que ganham com a queda das ações estão nadando de braçada. Aparentemente, chegou ao fim o movimento que elevou o valor das ações em US$ 8 trilhões desde janeiro de 2016.
O tombo de 16 por cento em relação ao pico não é incomum para o MSCI Emerging Markets Index, diante da natureza volátil dessa classe de ativos. Há muitos exemplos de perdas dessa magnitude no índice nos últimos 15 anos e a maioria desses episódios deu lugar a fases de recuperação. Somente em eventos extremos as ações de países em desenvolvimento prolongaram as quedas para além de 20 por cento.
No entanto, não há sinais de que o sofrimento vai terminar tão cedo. O que os investidores devem esperar para o período entre julho e dezembro? É hora de comprar, vender ou manter em carteira as ações de nações emergentes?
As seis perguntas abaixo podem ajudar a chegar nessas respostas:
As ações de mercados emergentes estão em queda livre?
As bolsas caíram tanto quanto na época da crise da dívida da zona do euro, do anúncio do início da retirada de estímulos pelo banco central americano (episódio conhecido como “taper tantrum”) e do crash do petróleo em 2014. Todos esses movimentos negativos foram compensados nos meses seguintes. A história sugere que as bolsas estão prestes a se recuperar, contanto que não apareçam notícias capazes de deflagrar novo impulso de venda.
Qual é o tamanho do estrago que uma guerra comercial pode causar?
Em se tratando de comércio internacional, os países em desenvolvimento não são tão frágeis quanto se pensa.
Os EUA precisam mais dos emergentes do que eles precisam dos EUA. Por exemplo, somente 17 por cento das exportações das nações em desenvolvimento vão para os EUA, mas 46 por cento das exportações americanas vão para esses países. Mesmo a China só tem os EUA como destino de 21 por cento de suas vendas ao exterior.
Isso não quer dizer que uma guerra comercial seria irrelevante. Trata-se de um perigo claro, mas é um risco de curto prazo que não abala o raciocínio fundamental de investimento em mercados emergentes.
As ações ficaram caras após dois anos de alta?
Para quem tem visão de longo prazo, nem o avanço de dois anos nem a queda de cinco meses alteraram drasticamente o argumento de preços relativos para as ações de mercados emergentes. Nos últimos quatro anos, esses papéis foram negociados no intervalo inferior de preços relativos praticados no mercado americano.
Quando o movimento de venda vai dar trégua?
O índice de força relativa observado nas variações semanais do MSCI está próximo do nível que aponta “exagero nas vendas”, que é quando uma recuperação fica mais provável.
Nem a crise da dívida da zona do euro nem a derrocada do petróleo em 2014 empurraram as ações de mercados emergentes para abaixo desse nível. Porém, o rebaixamento da nota de crédito do governo dos EUA pela S&P Global Ratings em 2011 e o choque do mercado na China em 2015 provocaram o rompimento dessa barreira.
Desta vez, a evolução depende do grau de incerteza contido no ambiente de alta de juros nos EUA.
O maior rendimento dos títulos do Tesouro americano vai interromper a alta de ativos de risco?
A diferença entre a razão entre lucro e preço das ações de mercados emergentes e o rendimento oferecido pelos títulos do Tesouro americano com prazo de 10 anos vem se ampliando desde janeiro. Para cada US$ 1.000 aplicados, as ações oferecem US$ 48 a mais por ano do que os papéis do Tesouro. A disparada de 1,39 ponto percentual nesse spread deu às ações de países emergentes um amortecedor na forma de rendimento para suportar alta adicional dos juros nos EUA.
O dólar importa para as ações?
A valorização do dólar impulsiona as ações de empresas exportadoras, mas alimenta a inflação e prejudica a demanda agregada nos países em desenvolvimento.
O dólar forte diminui o valor relativo dos ativos de mercados emergentes e o dólar fraco eleva esse valor. Ou seja, se os investidores ficarem pessimistas em relação à moeda americana, podem ficar otimistas em relação a essas ações.
Nada disso descarta a possibilidade de uma queda mais profunda das bolsas. No entanto, esses fatores mostram que as perdas são provocadas mais pela volatilidade típica dessa classe de ativos e menos por fundamentos que diminuam a atratividade desses investimentos.
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