Por Mark Bohlund.
A queda dos preços das commodities provocou alguns efeitos de longo alcance nas economias africanas.
Para os exportadores, a receita mais fraca amorteceu o crescimento. Considere a Nigéria, a maior economia e a maior produtora de petróleo da África. O produto interno bruto do país teve contração de 2,1 por cento no segundo trimestre, após uma queda de 0,4 por cento no primeiro. Os exportadores de energia vão demorar algum tempo para se ajustarem a essa nova realidade.
A maioria das economias africanas, porém, não está no negócio do petróleo. Para elas, os custos mais baixos de combustível apoiam o crescimento e os padrões de vida. Desse modo o efeito será diferente ao longo do continente. De fato, a narrativa poderia mudar de “África se levanta” para “África se inclina”, em um momento em que exportadores de commodities das regiões oeste, central e sul do continente se esforçam para encontrar novas fontes de crescimento, enquanto que as economias do leste se desenvolvem e integram em um mais robusto – e potencialmente gigantesco – mercado regional.
Crescimento
De 2010 até 2014, a média de crescimento econômico na África Subsaariana foi de 5,2 por cento. Após a forte queda dos preços do petróleo em 2014, o crescimento desacelerou para 3,4 por cento em 2015. É provável que ele seja ainda mais fraco em 2016, mas o declínio em termos agregados reflete em grande parte desacelerações na Nigéria, exportador de petróleo junto com Angola e a África do Sul. Em 2015, os três países representavam cerca de 60 por cento do PIB da África Subsaariana, mas menos de 30 por cento de sua população.
Uma integração mais profunda, mercados que funcionem melhor e uma infraestrutura melhorada podem dar frutos na busca por outras fontes de crescimento no continente.
A África Oriental está mostrando o caminho. O Banco Africano de Desenvolvimento, em seu relatório Africa Regional Integration Index Report, classificou a Comunidade da África Oriental (EAC, na sigla em inglês) – Burundi, Quênia, Ruanda, Sudão do Sul, Tanzânia e Uganda – como a comunidade econômica regional de melhor desempenho no continente. O relatório conclui que a EAC foi a que mais progrediu na redução de barreiras transnacionais ao comércio e outras atividades econômicas e que está à frente de seus pares nas categorias de comércio e integração produtiva.
Transporte
Conexões de transporte, como o Standard Gauge Railway, estão encorajando os investidores. A companhia ferroviária estatal do Quênia, com financiamento da China, está construindo a primeira etapa, que conectará a cidade portuária de Mombaça a Nairóbi, a capital do país. O trecho de 472 quilômetros está programado para começar a funcionar em julho de 2017. Na etapa final, a ferrovia passará por Kampala, em Uganda, Kigali, em Ruanda, e Bujumbura, no Burundi. Quando estiver pronta, a rede ferroviária será usada por mais de 160 milhões de pessoas nos países-membros da EAC, mais que os 44 milhões de usuários quenianos.
Quando o ajuste aos preços mais baixos das commodities terminar, o centro econômico de gravidade da África pode se deslocar para o leste, à medida que esses países forem crescendo.
Bohlund é economista da Bloomberg Intelligence em Londres.
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