Queda do ouro ainda não acabou: especuladores adotam posição líquida curta pela primeira vez

Por Joe Deaux.

A queda do ouro que levou os preços ao nível mais baixo em cinco anos tem espaço para se aprofundar depois que os hedge funds adotaram uma posição líquida curta pela primeira vez.

A mudança nos contratos futuros e nas opções em Nova York surgiram após os especuladores incrementarem suas apostas baixistas ao nível mais alto desde o início dos dados do governo dos EUA, em 2006. As posses longas caíram pela quarta semana.

O ouro atingiu o nível mais baixo desde 2010 na semana passada e os contratos futuros em Nova York caminham para o maior prejuízo mensal dos últimos dois anos. Os preços estão em queda devido à especulação cada vez maior de que as taxas de juros dos EUA subirão neste ano, o que reduz o apelo dos lingotes, porque eles não pagam juros como os ativos concorrentes. Ao mesmo tempo, a China comprou uma porção menor do metal do que os analistas esperavam e o dólar está se valorizando.

“Estamos começando a ver algum temor real no mercado do ouro pela primeira vez”, disse Eric Crittenden, diretor de investimento da Longboard Asset Management LLC, com sede em Phoenix, EUA, que gerencia US$ 304 milhões. O fundo mantém uma postura curta desde 2013 e aumentou essas posições em março. “Eu não ficarei nem um pouco surpreso se essa queda se tornar muito significativa e conseguirmos preços muito mais baixos”.

Contratos futuros

Os contratos futuros caíram 4,1 por cento na semana passada na Comex, para US$ 1.086 a onça, após terem chegado a US$ 1.073,70, nível mais baixo desde fevereiro de 2010. O índice de ações MSCI All-Country World caiu 2,1 por cento na semana passada, e o Bloomberg Dollar Spot Index subiu 0,1 por cento, no quinto avanço consecutivo.

Os especuladores mantiveram posições líquidas curtas para 11.345 contratos na semana que terminou em 21 de julho, segundo dados da Comissão de Negociação de Futuros de Commodities dos EUA publicados três dias depois. As apostas baixistas subiram 12 por cento, para 121.238.

O declínio do preço fez parte de uma queda mais ampla nas commodities, já que tudo caiu, desde o petróleo até o cobre e o açúcar, sinalizando que a inflação deverá se manter tímida. O Bloomberg Commodity Index recuou 4,4 por cento na semana passada, atingindo o nível mais baixo em 13 anos.

Os ativos internacionais em fundos negociados em bolsa garantidos pelo ouro caíram 1,1 por cento na semana passada, o maior declínio semanal desde março. A posse é a menor desde 2009.

Anos difíceis

Os últimos dois anos têm sido difíceis para os altistas em relação ao ouro, que no final de 2012 tinham acumulado uma posição recorde em produtos negociados em bolsa. Desde então, mais de US$ 84 bilhões em valor foram eliminados dos fundos. Os contratos futuros caíram 44 por cento desde que atingiram uma alta histórica de US$ 1.923,70 em setembro de 2011.

Os preços mais baixos poderiam reduzir a produção. Com o metal sendo negociado por menos de US$ 1.100, o lucro de um terço das empresas mineradoras está sob ameaça, segundo a Bloomberg Intelligence. Analistas do Barclays Plc disseram, em um relatório de 14 de julho, que o metal historicamente é negociado a pelo menos um terço acima dos custos médios de produção, o que implica uma base de apoio em torno de US$ 1.000.

“Do ponto de vista do investidor a longo prazo, a precificação continua sendo atraente nesses níveis, mas será preciso ter estômago forte”, disse Michael Cuggino, presidente da Permanent Portfolio Family of Funds Inc. em São Francisco, EUA, que gerencia US$ 4,6 bilhões, sendo cerca de 20 por cento alocados em ouro. “Esses preços são atraentes devido ao custo da extração do ouro e ao quanto o metal caiu em relação à alta de anos atrás”.

Jeffrey Currie, do Goldman Sachs Group Inc., diz que o sofrimento dos investidores altistas ainda não acabou, porque os preços poderão cair abaixo de US$ 1.000 pela primeira vez desde 2009.

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