Notícia exclusiva por Josué Leonel.
O dólar voltou a testar a marca de R$ 4,00 nesta segunda-feira, apesar de a presidente Dilma Rousseff ter reiterado os comentários feitos na quinta-feira passada pelo presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, sobre possível uso de reservas. Dilma disse que as reservas são suficientes para evitar uma “disruptura” provocada pela alta do dólar. O mercado não parece tão certo disso.
Alguns analistas concordam que, caso haja uma fuga expressiva de recursos do País, o BC terá necessariamente de vender dólares das reservas, e não mais apenas dólar futuro via swaps, como tem feito até agora. Não fazê-lo poderia significar permitir que o dólar disparasse rapidamente para níveis muito maiores do que o atual.
Sem tempo de se proteger, empresas endividadas em dólar poderiam enfrentar sérias dificuldades. Ou seja, o BC deve olhar também para o chamado ”risco sistêmico”, não apenas para fatores macroeconômicos, como o impacto do dólar na inflação e nas contas externas, embora estes também sejam relevantes.
O termo “disruptura” usado por Dilma, uma tentativa de tradução do termo inglês “disruption”, é traduzido literalmente como interrupção, mas o sentido real é mais dramático. Ocorre disruptura, por exemplo, nos crashes das bolsas, em que a queda é tamanha que o mercado para de funcionar. Em tecnologia, o termo explica o impacto de uma inovação que torna outros produtos obsoletos, muitas vezes quebrando seus fabricantes.
Admitir que o BC amplie a intervenção para evitar que a alta do dólar tenha consequências mais graves, porém, é diferente de concordar que o BC terá como barrar a alta do dólar. De maneira geral, o mercado é cético. E a razão para isso é mais do mesmo: não haverá estabilização, seja do dólar ou qualquer outro segmento do mercado, enquanto o governo não reconquistar a confiança na política econômica.
“Nós estamos vendo um impasse. O Congresso não quer elevar impostos porque a sociedade não aceita mais aumento da carga tributária. Por outro lado, o governo não quer cortar gastos sociais”, diz José Márcio Camargo, economista chefe e sócio da Opus Gestão de Recursos.
Enquanto o Brasil não sai do imobilismo na área fiscal, a economia vai vivendo um ciclo vicioso. A alta do risco Brasil, que passa dos 500 pontos, pressiona o dólar, que por sua vez piora as expectativas de inflação, levando os juros futuros a subirem, o que prejudica o crescimento do PIB, bate na arrecadação e, consequentemente, no resultado fiscal.
Sem uma resposta da política fiscal, ainda que o BC decida vender reservas seu efeito deverá ser de curto prazo. Como já ocorreu em outros momentos de atuação do BC, o dólar pode cair, mas para voltar a subir num segundo momento, diz Camargo, que prevê câmbio a R$ 4,50 no fim do ano.
Outro país com reservas gigantes, a Rússia, mostrou recentemente que uma montanha de dólares à mão não é garantia de que um país conseguirá segurar o dólar. As reservas russas foram parcialmente queimadas desde 2013, saindo de mais de US$ 500 bi para pouco mais de US$ 350 bi. E mesmo assim o rublo despencou.
Falou mais alto, no caso da Rússia, o receio dos investidores com o envolvimento do país na Ucrânia e as consequentes sanções que sofreu. Ou seja, prevaleceram os fundamentos, não as reservas. Mesmo a China e suas reservas trilionárias, lembra Camargo, mostrou recentemente como sua importância é relativa. Em apenas 2 meses de turbulência, as reservas chinesas saíram de quase US$ 4 trilhões para os atuais US$ 3,557 tri. Uma perda maior do que o total das reservas brasileiras.
Ou seja, mesmo estando em US$ 370 bilhões, as reservas brasileiras não são vistas como uma barreira intransponível a uma eventual piora aguda das expectativas. “As reservas têm como função tornar mais caro para o mercado jogar contra o BC. Mas o mercado é maior que isso”, diz Camargo.
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