Por Lionel Laurent.
As ofertas públicas iniciais são coisa do passado. Quem gostaria de comprar uma ação de uma empresa com enorme prejuízo e cujos dias de crescimento acelerado podem ter ficado para trás?
Uma alternativa para o IPO?
Agora existe uma alternativa ainda mais “geek” e ambiciosa para apostar em uma startup: o ICO.
O “Initial Coin Offering” é a mais recente tentativa do mundo bitcoin para recriar Wall Street à sua imagem e semelhança. Em vez da troca de dólares por ações, que geralmente vem acompanhada de uma reivindicação de lucros e direitos de voto, um ICO prevê a troca de um bitcoin (ou de um rival como o ether) por uma moeda digital recém-cunhada do emissor. Essa moeda consiste em algo entre dinheiro e uma participação no negócio, como explicado pela Wired, que pode ser usada para comprar energia de computação distribuída ou horas de trabalho.
Segundo a teoria, se este negócio for uma “boa ideia”, seu sucesso aumentará o valor de seus próprios tokens, enriquecendo aqueles que os compraram antes com desconto. Houve uma inevitável corrida especulativa, com os compradores de ICO em disputa para vender suas novas moedas com um prêmio em mercados poucas semanas depois. Isso nem sempre funciona. Também existe a possibilidade de fraudes.
Para muitas pessoas, mais do que uma nova ameaça contra Wall Street isso se parece a trocar um punhado de feijões mágicos por outro. O próprio bitcoin ainda parece “mais virtual do que real”, segundo artigo de Paul Vigna, publicado na semana passada pelo Wall Street Journal, já que a cautela dos reguladores restringe uma aceitação mais ampla por parte de investidores e os consumidores tendem a evitar um método de pagamento que pode se desvalorizar 20 por cento em um dia.
Isso diz algo sobre o tipo de startup disposta a ofertar um token ainda mais arriscado em troca: experimental, abstrato e obcecado com todas as coisas descentralizadas e as moedas criptografadas. Também revela algo sobre o tipo de investidor que está procurando atrair: acredita-se que mais da metade dos US$ 20 bilhões de bitcoins em circulação seja controlado por uma pequena oligarquia espalhada pela China e pelo mundo dos hedge funds, segundo a Harvard Business Review.
Esse não é o tipo de captação de fundos que poderia competir em pé de igualdade com o Goldman Sachs.
Mas as coisas ficam interessantes ao pensar no que isso significa para os capitalistas de risco. O trabalho deles depende de assumir grandes riscos na fase inicial em troca de prêmios suculentos quando uma empresa como a Snap abre capital. Em termos de dinheiro acumulado, os recentes ICOs não estão longe da média de uma rodada de financiamento série B, captando entre US$ 5 milhões e US$ 15 milhões, segundo a firma de pesquisa Smith + Crown.
E, embora uma empresa de capital de risco possa acabar controlando de 20 por cento a 30 por cento de uma startup em troca desse dinheiro, um ICO pode significar apenas um custo único de menos de US$ 500 mil, segundo Stan Miroshnik, diretor-gerente do banco de investimento Argon.
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Se o passado servir como guia, as empresas de capital de risco aprenderão a incorporar esta fonte potencial de ruptura da mesma forma que os bancos de Wall Street financiaram, assumiram o controle e dominaram seus rivais financeiros tecnológicos. O fundo Blockchain Capital está adotando o modelo ICO para captar US$ 10 milhões com investidores juntamente com um fundo tradicional de US$ 50 milhões.
Negociar tokens também pode oferecer aos investidores de capital de risco uma boa opção de resgatar um investimento de uma forma mais conveniente e líquida do que a às vezes complicada espera de que o negócio seja colocado à venda ou faça uma oferta inicial de ações.
Se houver um ponto positivo sobre os ICOs, é improvável que seja o sonho de reconstruir o mundo financeiro baseado em tecnologia de fonte aberta. Seria mais a esperança de que os evangelistas da tecnologia, que pregam a ruptura digital, tenham que enfrentar eles mesmos uma certa ruptura. E, dado o papel da indústria de capital de risco de vangloriar o bitcoin e o ethereum, isso provavelmente seja justo.
(Esta coluna não reflete necessariamente a opinião da Bloomberg LP e de seus proprietários.)
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