Querem um novo líder no Brasil? Cuidado com o que desejam

Por Andre Soliani e Ray Colitt.

Cada vez que a presidente em apuros do Brasil, Dilma Rousseff, sofre um revés político, há um rali no mercado de bonds e moedas estrangeiras. Mas os compradores podem estar enganados: o Brasil pós Rousseff está longe de ser uma maravilha.
 

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“Os investidores devem ter cuidado com o que desejam,” disse Nicholas Spiro, sócio da Lauressa Advisory, em entrevista por telefone em 17 de março, de Londres. “O impeachment de Rousseff provavelmente será um assunto confuso, e não há qualquer garantia de que o próximo governo teria a legitimidade e autoridade para avançar com reformas diante da profunda recessão”.

Após o drama da semana retrasada, quando Rousseff tentou nomear o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva como chefe de gabinete e barrado por um juiz do Supremo Tribunal Federal, as chances da presidente de sobrevivência parecem ainda menores. Existe uma probabilidade de 75 por cento de Rousseff não terminar seu mandato, acima dos 40 por cento em dezembro, disse João Augusto de Castro Neves, diretor da Eurasia Group na AL, em entrevista por telefone em 17 de março.

O resultado mais provável é que o vice-presidente Michel Temer substitua Rousseff em maio, quando o Senado provavelmente começará um processo de impeachment, disse Castro Neves. Em um cenário mais favorável, Temer, que também lidera o maior partido do Brasil, poderia chegar a um acordo com a maioria do Congresso que votaram a favor do impeachment de Dilma a aprovar um plano de emergência para reduzir o déficit orçamentário e inflação.

Ele provavelmente seria capaz de aprovar um novo imposto para estancar a deterioração fiscal. Mas ele não teria a influência política para fazer uma reforma constitucional das leis trabalhistas e de segurança social, que o Brasil precisa para estimular o crescimento econômico, disse Castro Neves.

Temer é mais pragmático do que Rousseff e provavelmente agiria imediatamente para reduzir os gastos e reconstruir a confiança dos investidores estrangeiros no Brasil, disse Thiago Aragão, sócio e diretor de estratégia da empresa de consultoria de risco político Arko Advice. Aragão vê uma chance de 60 por cento de Rousseff ser cassada, acima dos 40 por cento em janeiro.

No entanto, o governo de Temer não é intocável pela corrupção da Lava Jato. Muitos dos membros do seu partido, incluindo os chefes do Senado e da Câmara dos Deputados estão sendo investigados como parte deste processo.

“[Temer] tem uma maior chance de completar o restante do prazo do que cair. Mas os riscos de ocorrer algo de errado não são pequenos”, disse Castro Neves.

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